abril 14, 2011

Consciência separativa versus Consciência unitiva

Artigo publicado na revista Cadernos de Filosofia Extravagante, nº 5 - Março de 2015

  A passagem da consciência separativa para a consciência unitiva sempre foi um importante desafio evolutivo da humanidade e parece agora mais do que nunca estar a generalizar-se de forma muito rápida.
  Ao longo da existência humana esse progresso, essa passagem, essa abertura da consciência à realidade una da criação foi sempre sublinhada por aqueles que eram reconhecidos como seres de excepção, iluminados, santos, mestres, gurus.
  Neste espaço tempo particular que é o planeta Terra no conjunto do universo, neste aqui agora da caminhada colectiva da humanidade, essa nova expansão da consciência - em direcção ao ponto ómega, como lhe chamou Teillard de Chardin - aparece cada vez mais evidente pela
facilidade de comunicação global à velocidade da luz que conseguimos realizar através do progresso tecnológico que vimos consquistando. Estamos a construir uma “rede” (net) de consciência colectiva como nunca antes foi possível e a uma velocidade nunca antes alcançada.
  Ao longo do tempo o progresso do que chamamos tecnologia foi síncrono com a descoberta de novos espaços cada vez mais amplos. Síncrono também com a expansão do nosso conhecimento do mundo e do autoconhecimento, reflexivo, de nós mesmos.
Desde a pré história que os registos que vamos descobrindo deixados por nossos antepassados nos revelam a busca deste autoconhecimento e autorepresentação: ver-me na imagem de mim, identificar-me na diferença da imagem de mim com cada outro. A noção de pertença a grupos cada vez mais alargados foi também acompanhado a descoberta de território no planeta que habitamos e para além dele.
  Quem sou? Quem Somos? São as interrogações que desde sempre nos identificaram como seres conscientes.
  O que distingue então o Quem Sou na minha diferença, do Quem Somos na unidade de Sermos?
  O que distingue é exactamente a passagem, o salto quântico, a abertura da consciência separativa para a consciência unitiva. Do material visível, do físico, do corpo para o imaterial invisível, para a vida psíquica interna e desta para o espírito. Do ego para o eu (self), do eu para o ser.
Busca de sempre, cuja expansão vem acompanhando a conquista do espaço ao longo do tempo e a síncrona complexificação da “rede” de comunicação.
  No Espaço Tempo deste Agora, estamos finalmente a chegar ao ponto em que tudo o que descobrimos e construímos nos devolve a evidência consciente de que o nosso destino na terra é tão comum como a nossa origem: a consciência unitiva está a generalizar-se e a expandir-se à escala planetária. Com ela vem chegando a necessidade evolutiva da fraternidade. Do ultrapassar das divisões, dos conflitos, da mutua destruição, para o alargamento do grupo de pertença a todo o planeta, a toda a humanidade, a todas a formas de vida.
  Já percebemos que somos totalmente interdependentes para a nossa sobrevivência.
  A consciência unitiva aponta-nos o caminho da evolução como uma lei universal que não está na nossa mão contrariar pois ao fazê-lo só provocamos destruição e, em ultima instância - já percebemos -  a nossa própria destruição como espécie.
  A consciência unitiva vem por outro lado desvelando a possibilidade de alcançarmos colectivamente o que os iluminados de todos os tempos nos revelaram como o ser perfeito no paraíso, como a origem comum que, gravada na nossa comum natureza primordial continua a “chamar-nos” do mais profundo da nossa alma como um canto de sereia a que não sabemos resistir...
  Percebemos cada vez mais que para lá chegarmos como espécie teremos de atingir essa consciência unitiva enquanto humanidade no seu todo: estamos pois no mesmo barco, no mesmo planeta. O “território” é agora global e Todos Nós somos “o grupo” de sobrevivência.
  Essa é a lei planetária por excelência que temos de aprender a respeitar. Essa é a grande lição que estamos colectivamente a aprender.
  Ela se revela também e sobretudo na forma como estamos a descobrir em conjunto o ponto ómega da nossa própria busca espiritual: a essência por detrás de todas as religiões, de todos os caminhos de busca espiritual.
   A nossa compreensão da vida e da morte ou da doença e da cura como estados separados muda na medida em que caminhamos para a consciência unitiva.
  A consciência separativa do Ego de Todos Nós vê Deus à sua imagem como alguém ou algo separado mas perfeito, a quem dirige suas preces e pedidos de protecção. Convicto da sua imperfeição de ser separado da origem, ao vê-l’O longe de si,  o ego almeja no entanto aproximar-se da Sua Perfeição e tende por isso a abrir-se ao Seu Supremo Amor, assim vindo a tornar-se num ser Conscio. 
  A consciência unitiva é alcançada ao reconhecê-l'O como Presença Viva que a habita e em si vive, actuando amorosamente como O Todo poderoso, permanente Criador. Então ao Divino Amor nos abriremos incondicionalmente e nos renderemos totalmente à sua Guia. N'Ele brilharemos tanto mais como Seres de Luz quanto mais Todos Nós nos reconhecermos como Um no mesmo Amor Vivo, transformados pela Graça na nova Humanidade dum novo Mundo.

Carminda H. Proença
Sesimbra, 14 de Abril 2011



2 comentários:

Émones disse...

Muito bom excelente..parabens...

Minda disse...

Agradeço, fico contente por saber que gostou 😊