Como observar-me interiormente?
Este livro é um roteiro de uma viagem de auto descoberta.
Um roteiro não é senão um de entre muitos caminhos possíveis. Pode, eventualmente, despertar ou estimular a vontade de viajar, de também partir e descobrir. Pode ainda evocar percursos já percorridos, fazer recordar locais já visitados de forma um pouco diferente, revisitá-los a uma outra luz.
Esta estória começa por ser um exercício de imaginação, tendo porém como certo que imaginar também é viver.
Ao iniciar a leitura deste livro imagine que está a entrar dentro de si, pois será nesse registo que irá ser apresentado aos diferentes personagens... O “espaço interno” onde habitam, embora muitas vezes nos apareça como um tanto desordenado ou mesmo caótico, possui uma ordem intrínseca e diferentes níveis que estabelecem relações entre si. Ele é o espaço interno de “Todos Nós”, o herói desta estória…
A metáfora dos andares do Edifíciodeser onde a Família Todos Nós habita, poderá ajudar a clarificar e arrumar a compreensão consciente dessa ordem intrínseca e do seu funcionamento, tal como é subjectivamente vivido.
Geralmente, as descrições da “oculta” interioridade são menos explícitas, mais herméticas, usando linguagens de longínquas culturas. Mas estamos num tempo em que é possível uma maior transparência no nosso próprio contexto cultural, pois a divulgação generalizada dos conceitos básicos da psicologia oferece-nos um quadro de referência mais claro para a descrição da nossa interioridade básica que constitui um bom ponto de partida para a exploração do caminho de ser em maior extensão e profundidade, até onde o mistério que é a Vida o permita a cada um de nós.
“Oculto” é aqui tomado simplesmente com o significado de “interior”. Não perceptível com os sentidos externos, mas revelando-se à medida em que dermos atenção e explorarmos a nossa interioridade e a tornarmos consciente.
Assim, todas as forças de vida, personagens desta estória, são “forças ocultas”. Podemos reconhecê-las pelos seus efeitos nos comportamentos e nas emoções. Mas só se orientarmos intencionalmente a nossa observação atenta para o interior de nós próprios poderemos chegar a um maior conhecimento pessoal dessas personagens que habitam o nosso ser; elas são autênticas forças com naturezas diferenciadas que interagem em nós no desenrolar dos “dramas” e das “comédias” da vida.
Estamos assim a posicionar-nos não só como actores mas também como espectadores da nossa interioridade. Ora essa perspectiva central e globalizante de observação e análise é exactamente a que pode revelar-nos a nossa identidade essencial de ser: sou aquele que “olha” para mim em mim. O eu sujeito do meu ser pode então, verdadeiramente, tornar-se realizador e produtor da Obra que é a minha vida.
Uma Opus cujo Autor Supremo pode ser vislumbrado intimamente por cada Eu no silêncio dos últimos andares do seu Edifíciodeser… e cuja potência criadora poderá transportá-lo muito para além deles!
Este é, portanto, o sentido que escolhemos dar ao termo “oculto”: não é nada de exterior que devamos temer ou a quem devamos apelar, nem se restringe aos conteúdos inconscientes da psique, mas engloba todas as forças da vida, as Forças de Ser em si próprias.
Essas forças revelam-se-nos sempre que as reconhecermos em acção: nesta estória elas serão os habitantes dos Edifíciodeser onde vivem os Egos de Todos Nós. Eles precisam de as ir descobrindo à medida que crescem, pela exploração dos andares e das caves do seu próprio Edifício, se quiserem tornar-se produtores e realizadores activos da história da sua própria vida.
O caminho do auto conhecimento implica que encontremos e saibamos reconhecer uma a uma todas as forças em acção em cada um de nós, identificando a natureza, o poder e a influência de cada uma delas, os modos como interagem, bem como os respectivos efeitos nos nossos estados internos e nos nossos comportamentos ou acções. Descobrindo, ainda e principalmente, os nossos talentos e como pô-los em prática para o bem de Todos Nós.
Tem sido esse o objecto de estudo das ciências da psique, desde a antiga Alquimia à moderna Psicologia Evolutiva e, mais recentemente, à Psicologia da Consciência.
As ciências físicas demonstraram já que observador, observação e observado se encontram indissoluvelmente relacionados nos níveis subatómicos da realidade. É nossa convicção e experiência que, por maioria de razão, o mesmo acontece quando se trata de auto observação, de auto conhecimento.
No acto de ”nos observarmos vivendo” ou de “vivermos observando-nos” podemos aprender a identificar diferentes ambientes intra psíquicos, verdadeiros patamares de experiência subjectiva da una realidade interna.
Vamos partir do r/c do Edifíciodeser onde nasce Ego de Todos Nós e explorar os vários andares ou níveis conscientes da psique. Aprenderemos que a cada um deles corresponde uma misteriosa cave do inconsciente, também a explorar.
Vamos conhecer Cônscio, com o seu cabo tecido de Fios de Ariadne. Ele é o elevador do Edifíciodeser que nos transporta entre os andares e as caves e nos assegura o retorno, em cada viagem.
Finalmente, existem nesta estória dois portais – um Alçapão e uma Clarabóia – a atravessar pelos Heróis que arriscam soltar-se da Bolha da Psique e prosseguir mais além...
Que irão eles descobrir?...
Quem irão eles encontrar?...
Chegou o momento de começarmos a Viagem.
Esqueça tudo o que acabou de ler. Não é importante.
Importante mesmo é mergulhar simplesmente na estória… sem pressa… ao seu próprio ritmo… entrando em contacto íntimo com as diferentes forças-personagens à medida que lhe são apresentadas, brincando com elas por dentro de simesmo...
Espero, sobretudo, que se divirta ao ler como eu me diverti a escrevê-la!