junho 15, 2008

Agostinho da Silva e Sesimbra, onde foi escrito este livro

Diz António Quadros que Agostinho da Silva "visiona a Humanidade em marcha para o reino da fraternidade universal e do amor, para o advento de uma sociedade verdadeiramente humana...", "... do Espírito da Verdade, o qual garantirá a expressão e o livre desenvolvimento de todos os valores, a justiça, a liberdade, a paz."
Agostinho da Silva teve a ideia de fazer em Sesimbra um género de universidade aberta ou centro de estudos sesimbrenses, onde "conversas" substituiriam as "lições", e que seriam dadas ao ar livre e em lugares emblemáticos do concelho: Fortaleza de Santiago, Castelo, Lagoa, Cabo Espichel, etc.

Num breve ensaio dedicado a Sesimbra, "Projecto", que se manteve inédito até ser publicado em 2004 na revista "Sesimbra Acontece", Agostinho da Silva escreveu: "Vai, pois, o meu discurso, não àquele Portugal, e só esse vale a pena considerar, que inclui Corumbá na fronteira da Bolívia e Macau na fronteira da China, Lourenço Marques na fronteira da segregação e Chaves naquela fronteira que traçaram políticos esquecendo-se do preceito de que não separem os homens o que Deus juntou, mas ao Portugal que se concentra em Sesimbra, que em Sesimbra tem seu perfeito resumo com litoral de alcantil e praia, com seu castelo e seu porto, suas encostas e seus plainos, seus ocres e seus verdes, seu arreigamento no concreto e sua pronta partida para as nuvens, e que, dentro de Sesimbra, é ainda rijo núcleo em meus amigos de pesca ou pensamento, de mar ou alto, esses tais grandes em que o entusiasmo significa estar calmo e o cepticismo quer dizer, etimologicamente, não se cansar da busca."...."para lhes dizer que em Sesimbra devem surgir os primeiros núcleos em que o poder de criação que está oculto em Portugal desde o século XV desperte, ganhe forças e ajude a tirar Europa e América dos becos em que se meteram, os de se julgarem superiores, e ajudar a tirar pretos, amarelos e vermelhos dos outros becos, os de se julgarem inferores, em que a ciência volte a ser humana e de todos, como nas caravelas o foi; para lhes dizer que tem Sesimbra de pensar em que nunca mais portugueses deixem a sua terra, a não ser por franciscanamente o quererem, e que, fazendo-o, não apareçam em Paris ou Los Angeles como escravos que deles fazem os homens, mas com a fidalguia que Deus lhes deu ao nascerem. Que Sesimbra e os Amigos acordem e aprendam com quem vem e tem obrigação de ensinar o muito que ainda têm, temos de aprender; que despertem e insuflem na sensatez do mundo a loucura que lhe falta e exorcismem de vez as múmias da prudência, da sabedoria linfática e do deixa estar como está para ver como fica; e que ressuscitados eles próprios, passem a fazer de todo o emigrante um missionário daquela missão de tornar fraterno o mundo que Portugal não cumpriu outrora, peado como se encontrou por uma Igreja que só o Vaticano II passou a ver como história; por um sistema económico que só o socialismo liberal poderá mitigar e só a automação lançará também aos armazéns do passado; por um sistema político, o dos Césares de Roma, que só verdadeiramente poderá desaparecer do mundo quando renunciar cada homem a ser ele próprio, em sonho ou realidade, dentro de sua casa ou de sua nação, para seu empregado ou para seu cão, César pior que o de Roma."