Prefácio do livro pelo Prof. Paulo Borges

Prefácio
Este livro é uma alegoria-roteiro de uma viagem possível na demanda e descoberta de quem somos. Não é assim menos do que um convite a essa aventura que move desde tempos imemoriais o mais íntimo do espírito humano e de onde resulta o melhor que nos oferecem as tradições e sabedorias planetárias, a religião, a arte, a filosofia e a ciência. Um convite à única aventura que pode dar sentido pleno à vida e sem a qual esta se arrisca a degradar-se em mera sobrevivência, conflito e distracção, diversas formas de passarmos ao lado de nós mesmos, inconscientes das possibilidades superiores que se nos oferecem pelo simples facto de estarmos vivos.
Esta aventura é algo a que a autora, pela sugestão de percurso que aqui nos oferece, mostra já de há muito haver correspondido, conhecendo bem as divisões, níveis e caminhos desta casa pluridimensional e aberta do ser e consciência que somos. Este livro é assim também o fio de Ariadne de que nos fala, permitindo-nos uma orientação na busca de explorar e iluminar as dimensões mais recônditas de nós mesmos.
No tecer desse fio entrecruza-se a experiência pessoal da autora, entretecida com a que lhe provém de sabedorias e saberes vários, antigos e modernos, com destaque para várias correntes da psicologia contemporânea. Fascina a clareza e a criatividade imaginativa com que traduz tudo isso num conto apto a ser lido por pessoas de várias gerações e formações culturais, com o prazer e facilidade de quem lê a mais proveitosa e exemplar das histórias: a nossa própria história.
Por todos estes motivos estamos perante uma obra cuja importância é simultaneamente intemporal, pois versa sobre isso mesmo que desde sempre cada homem, consciente ou inconscientemente, busca – saber quem é - , e actual, pois corresponde à marcada acentuação, nos nossos tempos de crise e incerteza, da necessidade de um conhecimento experimental da nossa interioridade. Com efeito, parece definitivamente frustrada a expectativa de que a felicidade, que todos os seres naturalmente buscam, possa provir do mero progresso material, científico e tecnológico, sem que isso se acompanhe duma simultânea e mais empenhada busca do conhecimento de si por si mesmo. 
Esta obra de Carminda Hipólito Proença é assim um serviço prestado a todos nós e à causa maior da evolução da consciência. Por ela, o nosso sincero “Bem haja !”.
Professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde trabalha nas áreas de Filosofia da Religião, Filosofia em Portugal e Antropologia e Cultura e integra o projecto de investigação “A Filosofia e as Grandes Religiões do Mundo”.
Presidente da União Budista Portuguesa e da Associação Agostinho da Silva, bem como Vice-Presidente da Casa da Cultura do Tibete.

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