CAPÍTULO II

Eu de Todos Nós no ciclo secundário da Escola da Vida

A Família Psi Colé

2º ANDAR E 2ª CAVE

D. Transpessoal do 2ª andar e Sr. Al Quimista da 2ª cave 
Herói 
Escola da Vida 
Encontro com Simesmo 
Eu de Todos Nós 
Floresta Mágica das Energias e o Mundo Imaginal 
Cônscio, o elevador interno 
O processo de individuação 
Níveis de consciência, níveis de realidade 
Diversidade do saber e unidade do ser 

Eu Cônscio de Simesmo, nova Identidade 



A Família Psi Colé
2º ANDAR E 2ª CAVE
D. Transpessoal do 2ª andar
e Sr. Al Quimista da 2ª cave

No 2º andar mora D. Transpessoal, conforme explica Incônscio Dual, enquanto sobem.

Ego fez as suas pesquisas na biblioteca, ajudado por Intelectual:

- Descobri que esta família é muito dada a práticas ditas esotéricas, cheias de rituais carregados de simbolismo. Diz-se mesmo que eles possuem capacidades fora do comum, “extra-sensoriais”, mágicas...

O que quer que isso fosse, deixara Ego impressionado e muito curioso…

- Não se admirem com tanta gente aqui em casa. Tenho muitos familiares. Quase todos somos muito velhos embora o nosso aspecto, que pode mudar em qualquer momento, possa não o revelar aos vossos olhos. A origem da nossa família perde-se na memória dos tempos e dos espaços… - explica D. Transpessoal logo após os primeiros cumprimentos. - Também nos damos muito com o ramo alquímico da família a que pertence Al Quimista, que mora na 2ª cave e é muito entendido em práticas esotéricas cheias de rituais e complexas simbologias...

Aproveitando o momento de saudação geral, Incônscio Dual segreda:

- Mas não gostam que se saiba disso, pois há muita gente no Reino da Consciolândia que não tem boa opinião acerca dos Al Quimistas… embora não haja qualquer razão para tal! Esta família Psi Colé descende dos Colectivo Incônscios, um povo muito antigo que se espalhou por todos os recantos do Reino.

- Somos, sem dúvida, uma família ancestral, cheia de tradições, cuja origem se perde na memória do tempo, dando lugar a muitas histórias, crenças e rituais que povoam o imaginário de todas as pessoas, de todas as culturas. - Explica D. Transpessoal, senhora que geralmente se mostra aparentando meia-idade e é extremamente acolhedora e simpática. É uma daquelas pessoas que nos faz sentir imediatamente à vontade.

- É verdade! – diz Intelectual entusiasmado – Li num livro, que estudiosos ilustres defendem uma teoria que afirma que a linhagem dos Todos Nós e dos Dual também tem estreitas ligações com os antepassados Colectivo Incônscios!

- O que faz de nós todos primas e primos! – grita, excitada, Emoção.

A prima Imaginação, por sua vez, é especialmente estimulada pela energia deste 2º andar onde sente uma força que lhe parece bem familiar, com a qual tem muitas afinidades...

As expectativas de todos serão, de facto, largamente ultrapassadas. Não só nesse dia, mas todos os dias em que visitam os Psi Colé, Ego e os Dual são sempre calorosamente recebidos. Passam serões muito animados ouvindo verdadeiros contos de encantar frente ao fogo da lareira alimentado pela lenha guardada na cave de Al Quimista.

Histórias de reis e rainhas, princesas e príncipes, sapatinhos de cristal e abóboras que se transformam em maravilhosos coches e vice-versa; bruxas e magos, lobos maus e ingénuos capuchinhos vermelhos, anões e gigantes, etc, etc... parecem serpentear por entre o vermelho e o negro das labaredas num nunca mais acabar de mitos e lendas que vão passando de geração em geração.

A prima Imaginação não cabe em si de contente: nunca desprega os seus olhos, muito arregalados, dos narradores até ter bem a certeza de que cada estória chegou ao fim. Nem uma só pestana mexe enquanto recomenda, sem cessar, às suas irmãs Emoção e Recordação:

- Estão com atenção? Recordação, não te esqueças de nada!!! Depois vais-nos contar, muitas vezes mais, todas estas estórias maravilhosas!

Olham fascinadas para as labaredas que crepitam no fogo da lareira. O calor ajuda-as a relaxar e assim entram num estado de devaneio, um estado um pouco alterado de consciência bem típico deste andar… As imagens que então surgem na sua psique são ricas de significados e força emocional; têm a ver com coisas do seu dia a dia mas não só… Como que os conduzem a outro nível de vivências e de compreensão, mais amplo no espaço, mais abrangente no tempo, mais profundo dentro de si mesmos…

O Herói

A pouco e pouco começam a perceber algumas coisas deveras interessantes.

Por exemplo: em todos os contos existe um confronto essencial entre forças opostas. Essa dualidade é-lhes bem familiar. É mesmo a razão de ser do apelido Dual das famílias dos 1ºs andares e caves. Estão habituados às suas constantes contradições que mais parecem jogos de poder e medição de forças e através dos quais acabam por se conhecer melhor a si mesmos e uns aos outros.

A dualidade espelha-se agora nas histórias contadas por D. Transpessoal e seus familiares, onde aparece sempre um Bom Herói que acaba por vencer o que quer que se apresente como obstáculo aos seus desígnios e nobres missões de salvamento dos fracos e oprimidos, lutando contra as forças que os querem destruir, ditas “forças do mal”.

Ego de Todos Nós pensa: onde irão os Heróis buscar tanta coragem, tanta valentia, tanta certeza?! Como conseguem eles discernir com tanta facilidade o que está bem e o que está mal?!

Outra coisa o intriga: porque é que os Heróis do sexo masculino entram sempre em lutas de conquista pelo amor de uma dama inacessível, que só alcançam depois de enfrentarem com coragem muitos perigos e vicissitudes e vencerem as forças destruidoras?! Será que o amor, a liberdade de amar e dar vida são tão difíceis de alcançar que se tornam num assunto que merece tanta atenção?!

Mas isso é algo que ele ainda é muito jovem para poder verdadeiramente compreender:

- Quando cresceres começarás a entender melhor - dizem- lhe as Fadas, suas madrinhas.

Entretanto, os nossos amigos sentem-se muito insignificantes ao compararem-se com essas figuras míticas e heróicas! Nem Ego, apesar do seu estatuto de recente proprietário, escapa ao contágio de uma certa frustração e nostalgia...

Ele gostaria de ser um daqueles grandes e valentes Heróis que não têm dúvidas nem temores e se batem até ao fim por aquilo que desejam e em que acreditam, pela vitória do Bem contra o Mal, procurando sempre o maior e mais inatingível dos tesouros! Tesouro que, de um modo ou de outro, tem geralmente a ver com a vitória do amor criador de vida sobre as forças que o destroem…

- Nunca conseguirei ser assim tão belo e forte aos olhos de nenhuma donzela! Que princesa vai gostar de mim, tão insignificante e temeroso que sou?!

Sempre que estes pensamentos o dominam Ego fica triste, mesmo deprimido, desiludido consigo próprio, alienado das suas reais qualidades e capacidades que lhe parece não terem qualquer valor ou interesse. Nesses momentos acha-se mesmo muito parecido com os “fracos”, ou mesmo com os “maus”, de todas as histórias! A sua baixa auto estima e frustração dão-lhe vontade de a todos agredir, de tudo destruir, de se tornar o “mau da fita”.

Noutras ocasiões, porém, sonha que é ele próprio o Grande e Bom Herói. Sente-se então superior a todos os que o rodeiam, mais forte, mais poderoso, mais cheio de qualidades!

Tais oscilações – ora Ego alienado, ora Ego inflado – são muito cansativas e stressantes bem como, convenhamos, pouco realistas. Tanto umas, como outras!

Quem lhe vale nessas inquietações é a Fada Intenção, sempre atenta e protectora. Ela sabe que é chegado o momento de entrar em acção e, mesmo que silenciosamente, ajudá-lo a recuperar uma visão mais realista das coisas:

- Repara, meu querido afilhado, como tu te sentes uma pessoa diferente conforme o andar em que te encontras: quando estás no rés-do-chão, a tua casa natal, tens uma visão e uma opinião sobre quem és, que difere da visão e da opinião que tens quando estás no 1º ou no 2º andares.

Escola Secundária da Vida

É assim que Ego percebe que precisa “arrumar” dentro de si todas aquelas visões e opiniões, todas as diferentes experiências e episódios, todos os estados que vivencia, todos os seus modos de ser.

A partir daí, sempre que carrega nos botões do elevador e é por ele transportado até um dos patamares do Edifíciodeser, presta muita atenção a todas as alterações que nele ocorrem quando na companhia dos vários personagens que vai conhecendo.

Procura seguir os conselhos das Fadas Madrinhas e do Mestre da Escola Secundária da Vida que lhe ensinam que a atitude certa é estar atento, pronto a aprender e a dar o seu melhor. Sempre que o faz, fica mais bem disposto e menos preocupado.

Desde que se habituou ao convívio com os Psi Colé frequentando o 2º andar e, sobretudo, a 2ª cave, todas as vivências que tem tido lhe proporcionam novas e espantosas compreensões. Até parece obra de magia, como nas histórias de encantar que lhe conta D. Transpessoal ou nas experiências arriscadas em que participa com Incônscio Dual e Al Quimista.

Curiosamente, sente-se agora mais sereno, menos precipitado ou ansioso. Com estes novos vizinhos aprendeu como a liberdade, a amizade, a fraternidade e o amor são bens superiores, a salvaguardar a todo o custo e como é por vezes preciso uma coragem e determinação heróicas para o conseguir.

- É esse o rumo, a direcção, o sentido, a lição que ensinam todos os contos com a sua infinita sabedoria acumulada ao longo dos tempos! – confirmam seus Mestres do secundário.

Encontro com Simesmo

Com o tempo e a exploração dos 2ºs andar e cave, Ego começa a conseguir olhar para si e para os outros Egos de uma nova maneira. Menos dependente das influências ambivalentes dos Dual e seus duendes, já vai sendo capaz de melhor reconhecer as qualidades e defeitos de cada um sem se iludir ou deprimir em demasia.

Intuicional, o menos Dual dos quatro irmãos Psis, anuncia que uma mudança muito importante está prestes a ocorrer no Edifíciodeser. Mas não sabe dizer qual será em concreto.

D. Transpessoal também confirma, com ar misterioso, acenando com a cabeça.

É em casa de Al Quimista que Ego pressente que algo em si se está a formar… Sente emergir uma nova realidade interna.

De facto, não demora muito até que, por entre o calor e o fumo do braseiro sempre aceso, soltando-se de uma enorme labareda rubra surja um novo personagem com ar de sábio ancião, envergando uma veste comprida de uma grande alvura!

- É Simesmo que nasce! - anuncia Al Quimista. E explica – Bom, ele existe desde sempre, mas manteve-se oculto, resguardado, à espera que tu chegasses aqui e fosses capaz de reconhecê-lo!

- Nem mesmo Intuicional  e seus servos Visões conseguiram pressentir a tua presença?! Deves ser muito poderoso… – diz Ego dirigindo-se a Simesmo com grande admiração.

Os quatro duendes estão anormalmente tranquilos desde que Simesmo apareceu e nem sequer parecem estranhá-lo. É como se já o conhecessem de há muito…

Al Quimista continua a explicar que foi preciso que Ego crescesse, explorasse a sua casa e dos seus parentes mais próximos, se habituasse ao ambiente em casa dos Psi Colé no 2º andar e nesta cave, para agora poder finalmente encontrar-se com Simesmo.

A pouco e pouco Ego e Simesmo tornam-se companheiros inseparáveis. Simesmo explica-lhe muito bem coisas difíceis, como seja quais as melhores maneiras de lidar com as forças dos Dual, os excessos das primas ou dos duendes e com os misteriosos personagens que parecem assaltar os seus sonhos sempre que visita as caves de Incônscio ou de Al Quimista. 

Percebe agora que todas as vivências de forças opostas e estados de tensão e dualidade servem para “abrir” novas dimensões interiores, para expandir ainda mais a consciência da amplitude do seu ser, para consolidar a sua identidade e vontade próprias.

- Mesmo oculto, sempre te acompanhei, como meu filho predilecto – explica, carinhosamente, Simesmo. Apesar da aparência solene, sua voz é suave e cheia de doçura quando fala com Ego. Faz-lhe lembrar seu pai Super… mas sem a austeridade distante; pelo contrário, com uma ternura mais próxima da Mãe Id

- Estive sempre contigo, sobretudo nas dificuldades, pois são elas que fazem crescer. Cheguei a colocá-las no teu caminho, como desafios, amparando-te depois, quando te sentias impotente para as ultrapassares…

- Percebo, amigo Simesmo e muito te agradeço – responde Ego. – Sei agora que sou o “sujeito”, o Centro consciente que integra tudo o que vivo no rés-do-chão, no 1º andar e na 1ª cave. Mas conhecer-te, Simesmo, está a ajudar-me a tornar-me maior, a aceitar como mim mesmo também tudo e todos os que conheci na 2ª cave e no 2º andar!

Neste momento, Intuicional exclama, num súbito in sight:

- Ego está consciente de Simesmo!!!

Todos se calam de repente, procurando entender. Simesmo sorri e acena afirmativamente com a cabeça.

Dele recebem muitos ensinamentos:

 – Quando a força da natureza, da vida, se acumula nas caves mais fundas e obscuras, começa a tentar subir para a luz, na busca de novas passagens de expansão da vida, biológica e psicológica, de expansão de consciência. Cabe a cada Ego reconhecê-la e facultar-lhe o acesso. Se não estivermos atentos, tal processo bloqueia e pode desencadear por vezes “crises” que são fases de erupção não controlada: as explosões na casa de Al Quimista, que tanto vos assustam, são disso exemplo!

Agora Ego percebe como é importante abrir-se à compreensão de todas estas experiências em todos estes níveis de ser pois são grandes oportunidades de desenvolvimento pessoal com a lição de vida que sempre contêm.

- Tens de ter cuidado – adverte a Fada Intenção, sempre atenta. - A “direcção”, o “sentido” da viagem só se revelam com clareza, na acção. Não adianta tentares descobri-los falando com Intelectual, Intuicional ou mesmo Simesmo. Tens de arriscar agir, mesmo na incerteza, mesmo errando... Só na acção e muito atento a cada passo, podes discernir qual é o melhor caminho, quais são as escolhas necessárias.

- Tudo assim aparece como parte da grande aventura da vida, de nos tornarmos cada vez mais Vivos porque mais conscientes do que realmente somos! - pensa Ego. E nem precisa perguntar, pois está seguro de que Simesmo concorda com ele e estará, de um modo ou de outro, sempre a apoiá-lo.

- O “acesso”, a “passagem” do 1º para o 2º andar está finalmente toda aberta. Podemos agora avançar com segurança para o exame final do nível secundário da Escola da Vida. – explica Simesmo.

E continua

- Estas “passagens”, uma vez abertas, não se fecham mais! Podes até esquecer-te de subir, distraído com a faina do dia-a-dia na tua casa do r/c ou nos 1ºs, andar e cave. Mas cá estarei eu para to lembrar, quando subtilmente começares a sentir de novo essa falta de ar, essa ansiedade sem objecto, esses medos, essa tristeza ou mal estar que já sabes reconhecer. Cá estarei eu para te lembrar e te acompanhar à montanha alta com que tantas vezes sonhaste, onde podes agora olhar mais de perto para o céu e, respirando livremente, ganhares asas para voar, grande e redondo, alargando cada vez mais os teus limites de ser! Do consciente ao inconsciente, do individual ao colectivo…

Ego aprende, progressivamente, a confiar em Simesmo pois sua grande sabedoria e conselhos sempre o ajudam muito. Quando teima em não os seguir, geralmente por cedência às insistências desarticuladas dos Dual e seus duendes, acaba invariavelmente por se arrepender. 

Estes, curiosos, interrogam-se:

- Quem é este que parece ser o mais sábio de Todos Nós?

E, por sua vez, começam a interessar-se pelas conversas que Ego tem com Simesmo; cada vez mais os acompanham e estão prontos a com eles colaborar.

Assim se acostumam à presença de Simesmo junto de Ego e aprendem a conhecê-lo e a respeitá-lo. Esse ancião exerce sobre eles uma influência harmonizadora e pacificadora. No entanto, não conseguem fugir completamente à sua própria natureza Dual e ainda discutem entre si com frequência, procurando pressionar-se uns aos outros.

Quanto a Ego, tornou-se quase inseparável de Simesmo, de tal forma que o diálogo interno entre ele e esse sábio ancião se vai tornando um hábito permanente, fazendo-o sentir-se cada vez mais equilibrado e seguro da sua nova Identidade. Já reconhece melhor certos excessos e ilusões dos Duais e está mais capaz de repor a ordem e a tranquilidade quando necessário, agindo como o verdadeiro proprietário do Edifício.

Com o precioso contributo de Simesmo e das Fadas Vontade e Intenção está agora mais consciente da direcção, do rumo que escolheu: a aventura da auto descoberta e da expansão da Consciência de Ser.

Os importantes ensinamentos que lhe proporcionam as experiências que vive são por ele integrados, já sem o risco de ficar “preso” a elas num qualquer andar ou cave o que atrasaria a continuação da jornada, conforme lhe confirma Mestre da Escola da Vida.

Eu de Todos Nós

De tal forma Ego e Simesmo se tornam inseparáveis que todos começam a olhá-los como um único eixo de interioridade, um Eu autoconsciente: o Eu de Todos Nós.

Sente-se muito mudado e acha que este novo nome lhe assenta muito bem! E assim passa a nomear-se e a ser nomeado por todos: Eu.

- Eu já reconheço os níveis de realidade específicos de cada um dos “andares” como meus diferentes níveis de consciência. E também já diferencio as características de cada uma da forças que neles habitam: quando estou nos 2ºs, em casa dos Psi Colé entro em sintonia com a psique colectiva e vejo, interiormente, cenários e personagens, estórias cheias de símbolos e significados, de forma diferente do que vejo habitualmente a partir do rés-do-chão ou do 1º andar em casa dos Dual.

- Aqui a minha atenção vigil fica menos activa e tenho a impressão de que não posso comandar a acção… Esta desenvolve-se de forma espontânea, autónoma, imprevisível – recapitula Eu de Todos Nós num dos seus diálogos internos, cada vez mais frequentes.

Intelectual lembra-lhe que esse estado é designado, na literatura da especialidade, como um “estado modificado de consciência” por comparação com o estado vigil próprio dos r/c e 1ºs andares.

A Floresta Mágica das Energias e o Mundo Imaginal

- As imagens dos sonhos oriundos da 1ª cave aparentam ser aleatórias, de uma consistência rarefeita e de duração efémera. Mas os sonhos lúcidos inspirados por Al Quimista da 2ª cave são ricos em conteúdos simbólicos ancestrais, próprios do inconsciente colectivo – autênticas forças vivas da psique inconsciente, a que o psicólogo Carl Gustav Jung chamou “arquétipos”. – explica Mestre Escola.

Eu percebe que vale a pena dar-lhes atenção pois trazem uma sabedoria parecida com a de Simesmo que revela novos sentidos para as suas buscas internas. Descobre também que as imagens dos arquétipos colectivos podem surgir naquele “estado intermédio” que aparece, por exemplo, nos momentos do “entre”: ao adormecer ou ao acordar ou simplesmente quando relaxa, fecha os olhos e mantendo-se semi vigil desenvolve cenários, imagens, personagens e acções, recordando e sobretudo revivendo vivências, junto com Emocional.

Descobre como as emoções se transformam até ao ponto de se transmutarem, devolvendo à vida energias presas nas gavetas de Recordação.

- Este é o mundo a que alguns autores chamam de Imaginal.- informa Intelectual.- Nele podemos descobrir seres, formas e acções que nunca conhecemos no estado vigil, nem mesmo nos sonhos habituais. Simplesmente surgem na tela da psique, carregadas de simbolismo emocional. Toda a ficção, todas as formas de arte, têm abundantes exemplos desta forma de criar.

- E os curadores de todos os tempos sempre souberam como usar estes níveis de consciência, estas energias, para ajudar quem precisa. Até a própria psicologia transpessoal estuda estes fenómenos e utiliza estes níveis de consciência para ajudar a recuperar o equilíbrio e facilitar o desenvolvimento pessoal – explicara o Mestre da Escola da Vida.

- Digamos que Imaginal é parente afastado da Prima Imaginação do 1º andar… É talvez como a sua contraparte nestes níveis do inconsciente colectivo… – explica D. Transpessoal. - As “ficções” de Imaginação parecem ganhar realidade de vida própria no mundo do Imaginal. O que parece fantasia e imaginação, cheia de contradições nos 1ºs, pode ser integrado e ganhar um significado novo nos 2ºs. E o mais interessante é que as dualidades acabam assim por se harmonizar numa compreensão maior e o “sentido” ou direcção da viagem a Caminhodeser é reencontrado!

Ao conhecerem Imaginal descobrem novas possibilidades que parecem ser reveladoras de cenários mais amplos no espaço e no tempo, de dimensões paralelas aos estados habituais de consciência. Pode mesmo acontecer que descubram outras formas de comunicar e agir…

Já antes tinha ouvido colegas da Escola contarem como lhes acontecera entrar de forma brusca e inesperada nesse mundo Imaginal, o que causara grande confusão e ansiedade a alguns deles.

Face às perguntas que começaram a surgir, o Mestre do secundário achara conveniente explicar, revelando-se conhecedor profundos destes assuntos:

- Quando o mundo Imaginal irrompe brusca e inesperadamente na psique, podem aparecer estados de tipo delirante ou alucinatório. São as chamadas “crises de abertura” ao transpessoal e que não se devem confundir com situações patológicas.

Intelectual acha estes fenómenos muito interessantes e convida Eu para com ele consultar alguns livros que vira na biblioteca sobre este assunto.

Atento às advertências do seu Mestre, Eu prepara-se para aprofundar melhor estas novas dimensões da psique colectiva. Sobretudo, porque os Mestres lhe asseguram que está progredindo muito bem no Caminho, com o apoio e a cooperação de todos, especialmente das Fadas Vontade e Intenção:

- Como tens a tua Identidade individual básica já bem integrada e consolidada, e te sentes mais consciente e seguro na direcção a seguir, não corres grandes riscos em mais esta exploração. Deves continuar a tua busca com prudência, determinação e coragem, pois só descobrindo e integrando todas as dimensões deste teu Edifíciodeser te podes transformar num verdadeiro ser humano.

Assim acontece. Eu diz um amigável “até à próxima” ao seu Mestre e com um mínimo de carga de sobrevivência material, criteriosamente escolhida, na mochila, retoma o seu caminho através da Floresta Mágica das Energias do Mundo Imaginal, que Al Quimista lhe revelou abrindo uma porta escondida nas traseiras da sua cave…

Muitas experiências vive nessa dimensão paralela. Aprende a sair do corpo e fazer viagens noutros espaços e tempos. Desenvolve um pouco, capacidades paranormais como a telepatia, a premonição, a clarividência e a visão de campos de energia colorida.

Mais tarde, de regresso a casa dos Psi Colé, D. Transpessoal e Al Quimista ajudam-no a entender e integrar essas novas capacidades.

A Floresta do Imaginal é um mundo de realidades virtuais, imateriais, onde as formas se assemelham a hologramas e ganham por vezes halos de cores transparentes, como as dos arco-íris! Tudo aparece preenchido de espirais de energia vibratória e brilhos ou sombras inesperadas.

Encontros com entidades, corpóreas ou não, podem também acontecer. Alguns são luminosos e outros escuros; estes parecem aguardar alguma luz para se revelarem à consciência.

- Lembras-te dos personagens dos contos de encantar? - diz Recordação. - Pois é aqui que eles habitam, nesta Floresta de Energias. E não são só eles os seus habitantes. Nas zonas mais sombrias, outros seres vagueiam por aqui, alguns com formas rarefeitas, tipo fantasmas, sabes?... Vão parecer-te perdidos e intranquilos, meio desvitalizados, sem identidade nem força, sem vontade nem direcção…

- Precisamos ajudá-los! - diz Eu, sentindo como Emocional fica abalada sempre que eles se aproximam.

- Basta indicar-lhes por onde devem seguir para que encontrem o que precisam: a luz – explica Al Quimista.

- Já percebi – pensa Eu, muito feliz por poder ser útil.

Cada vez que encontram um desses entes, Eu aproxima-se e aponta com o dedo da mão direita bem esticado na direcção da luminosidade que chega dos andares de cima, como um Sol Interno, explicara Mestre, uma luz de consciêcia de Si.

Intuicional aconselha-os:

- Sigam em direcção a esta Luz! É por aí o Caminho de subida à consciência, de encontro com Ser!

Basta isso para que as sombras levantem os olhos do chão, ganhem novo alento e confiança e, reconhecidas, avancem olhando o alto. Sua visão é fraca e enevoada mas agora já podem perceber de onde vem maior claridade e seguem por aí…

- Aos que estão mesmo totalmente cegos, é preciso dar-lhes a mão e acompanhá-los até que possam prosseguir sozinhos; é que aqui, nesta dimensão, os que vêem tem o poder de ajudar a abrir a visão dos mais cegos, desde que eles queiram ver.

D. Transpessoal explica:

- Quanto mais iluminado, ou seja, consciente, estiver o Caminhante do sentido ou intenção da sua caminhada, mais vai poder ajudar as forças das zonas mais sombrias que ainda não conseguira encontrar o Caminho.

Tudo isto Eu de Todos Nós vai aprendendo ao terminar o ensino secundário. É quase como relembrar… E, além do mais, empolgante e muito divertido!

Intelectual lembra-se do que ensinou recentemente Mestre na aula de Física:

- Observador, observado e acto de observar são partes indissociáveis do mesmo processo… Neste nosso caso, o Processo de Ser…

Pois é! Pensa Eu. Enquanto disso não nos apercebemos, vivemos na convicção da separação entre os conteúdos internos e as realidades exteriores ao nosso ser. E o que é considerado como real num nível de consciência (andar) do Edifíciodeser, poderá facilmente ser classificado de irreal, fantasioso ou mesmo alucinatório pelos Egos que se fixam nos níveis de consciência mais básicos.

Eu aceita que há muitas realidades distintas, ou melhor, que tudo o que vive existe, e é de facto “real” do ponto de vista da sua consciência, o único a que tem acesso. Ou, simplesmente, não existiria para ele.

A escolha agora é sua: pode explorar mais, ou menos, realidades. Ou seja, conhecer-se mais, ou menos, amplamente.

Eu escolhe aceitar todas as experiências e vivências com serenidade e com humildade no Caminho da auto descoberta, face ao Grande Mistério que é a Vida.

Nesta perspectiva mesmo as fases mais bruscas ou trágicas de sua vida se transformam em oportunidades de expansão de consciência, apesar de toda a perturbação que possam causar.

Cônscio, o elevador interno

Um facto novo que à força de se repetir ganha contornos de uma realidade à qual se vai progressivamente habituando é que as paredes e o chão dos vários andares, à medida que os explora e conhece, se tornam cada vez menos opacos até ficarem quase transparentes!!!

Eu consegue agora vislumbrar o interior dos 1ºs e 2ºs andares e caves cada vez com maior nitidez, por dentro do seu Edifíciodeser, olhando de qualquer andar em que se encontre!

Porque estará isto a acontecer?! Interroga-se, admirado.

É a Fada Madrinha Intenção quem relembra:

- Nos 1ºs e 2ºs andares conheceste as forças da tua própria psique: nos 1ºs, andar e cave, os conteúdos psíquicos que te são próprios, ou seja, individuais; nos 2ºs, andar e cave, as forças comuns à psique colectiva de todos os Eus, que se perde na memória do Tempo e do Espaço...

Enquanto fala, agita a varinha mágica de onde se desprende um pó dourado… E continua:

- Eu de Todos Nós, agora que já te apropriaste conscientemente dos primeiros níveis do teu Edifíciodeser e já conheces e convives bem com as forças psiquicas que neles habitam, individuais e colectivas, bastar-te-á um pouco de Atenção Interna, o pó dourado que sai da minha varinha para que possas “viajar” entre eles com a maior facilidade. O elevador Cônscio indicar-te-á sempre qual o andar – o nível de consciência – em que te encontras.

- Pois é! - descobre Eu entusiasmado. - Quando precisar de contactar com algum destes “vizinhos”, basta-me entrar em Cônscio, o elevador. E com a ajuda de Vontade e Intenção, imediatamente chego ao contacto com eles. É como sintonizar diferentes estações de rádio! – ri, contente com a sua descoberta dando uma pirueta de satisfação e soltando à sua volta a nuvem dourada de pó mágico com que Intenção o cobriu e que parece dar-lhe uma certa imponderabilidade, torná-lo mais leve!

Finalmente começa a ter consciência que Intenção é, de facto, possuidora de grande poder, sobretudo com Vontade por perto. Recordação lembra-lhe o que os seus pais Id e Super sempre diziam: “quanto mais cresceres, melhor vais entender o poder de tuas Madrinhas e beneficiar dos seus conselhos e ajuda.”

Tais descobertas levam-no a pensar que os aparelhos e instrumentos construídos pelos técnicos e cientistas, como os elevadores e muitos outros que In-tele-dual conhece dos livros lá da biblioteca ou das experiências no laboratório da Escola, não são senão uma maneira de “reproduzir” de forma material, visível e palpável, realidades internas que existem e funcionam em Todos Nós sem que saibamos bem como!

Melhor ainda: ao olharmos para tudo o que criamos e construímos, estamos a ver-nos ao espelho, a revelar a nós mesmos como somos “construídos”, como internamente funcionamos no nosso corpo, no nosso cérebro, no nosso pensamento, sentimentos e emoções. Projectamos o modo como somos feitos e funcionamos, em tudo o que exprimimos e construímos.

Eu de Todos Nós habitua-se às suas novas capacidades como a um fato novo:

- É um bonito fato, assenta-me como uma luva!

Sente-se verdadeiramente como um novo Centro do Edifíciodeser. E é-o, de facto. Não só se assumiu como proprietário do Edifício como aprendeu a bem gerir o condomínio. Reconhece como seus todos os habitantes ou forças que já conheceu, consolidando assim a sua Identidade.

Quer se encontre no r/c, no 1º ou no 2º andar, e na 1ª ou na 2ª cave, sabe agora que é sempre ele mesmo: um Eu integrado, individualizado e consciente de o ser. Pensa por si próprio, sabe melhor o que quer, como agir e, sobretudo, em que direcção prosseguir na aventura da auto descoberta, com Vontade e clara Intenção.

Na verdade, o rés-do-chão quase já nem existe para ele como separado dos outros andares, desde que chão, paredes e tecto se tornaram quase transparentes permitindo uma fácil convivência de toda a já bem conhecida vizinhança, desde o 2º andar até à 2ª cave.

Todos sabem que coabitam dentro de um espaço psíquico comum.

Existe um número indeterminado de salas ainda por explorar em cada um dos pisos, sobretudo nas caves, muitas portas escondidas a abrir, se é que tem fim... Mas Eu sente-se seguro de que, com a mesma corajosa e atenta atitude que as Fadas Vontade e Intenção lhe infundem pode continuar as suas explorações, expandindo-se cada vez mais em consciência de ser.

O processo de individuação

Tudo isto é muito interessante. Eu sabe que precisa continuar a busca da resposta à pergunta que o move desde início: “Quem sou?”

Ele reconhece que o “Centro” da sua Identidade muda ao longo do tempo, à medida que expande a sua auto consciência, à medida que prossegue a grande aventura do auto conhecimento.

Lembra-se do “Centro” que fora enquanto Ego-criança: o Egocentro de Todas as Atenções, menino teimoso, escravo dos duendes Impulsos e Afectos, teimando em levar avante aquilo que mais desejava em cada momento e sentindo-se completamente infeliz e frustrado quando não eram imediatamente satisfeitas todas as suas exigências.

Depois, esse Egocentro de Todas as Atenções cresceu e passou a Egocentro Comparado: na escolinha, entre outros Egos seus iguais, media as suas capacidades e valor por comparação com os seus coleguinhas. Aprendera por fim a aceitar que nem sempre podia ganhar os jogos e as disputas, sem que por isso ficasse irremediavelmente destroçado na sua auto estima.

Por largos anos ainda, já mais crescidinho, passou a existir enquanto Centro Oscilante: sentia-se ora confiante ora frustrado conforme a maneira como se via reflectido nos olhos dos outros, em especial daqueles que mais desejava que o apreciassem, ou que considerava como exemplos, modelos a imitar, elevados por ele à condição de seres mais que perfeitos, até o desiludirem ou frustrarem!

Pobre Ego cansado de tanta oscilação! Muito teve de penar até encontrar uma âncora firme, em Simesmo!

De facto, a experiência contínua dessas “viagens” internas entre o Egocentro, o Centro Comparado e o Centro Oscilante viria a dar os seus frutos: a integração da identidade básica que Ego de Todos Nós encontrou com Simesmo.

O diálogo permanente de Ego com Simesmo acabou por criar um eixo sólido de interioridade: Ego conseguiu com Simesmo a primeira integração numa Identidade Maior, única, individuada, o Eu de Todos Nós, conhecendo, aceitando e integrando nada mais nada menos do que os já bem familiares cinco níveis do seu Edificiodeser: o r/c, os 1ºe 2º andares e as 1ª e 2ª caves e suas infindáveis extensões.

Níveis de consciência, níveis de realidade

Os PsiDual e os Psi Colé, por sua vez, aprenderam também que são todos parte dessa mesma individualidade, cujo Centro reconhecem como o Eu de Todos Nós.

Acontece, com certa frequência, voltarem a sentir-se divididos uns dos outros sobretudo quando Eu se afasta de Simesmo e anda meio perdido, como nos velhos tempos, com os duendes a puxarem-no cada um para seu lado ou com Incônscio Dual e Al Quimista a pregarem-lhe sustos que o atrapalham e desestabilizam...

Quando, nestas fases, se juntam os habitantes do 1º e 2º andares com os das duas caves, os excessos são grandes! Noitadas de verdadeiros delírios e alucinações, jogos de guerra levados muito a sério, misturados com explosivas orgias, etc, etc... Os duendes, sobretudo os Impulsos, ficam entregues a si próprios e, como têm o condão de desestabilizar as Senhoritas Emoção, Imaginação e Recordação tudo fica virado do avesso!

É então que o seu comportamento se altera, tentando dominar tudo e todos, o que gera conflitos com outros Egos ou Eus seus colegas e vizinhos. Aí tudo se complica e parece correr de mal a pior!

Nessas alturas, Ego tem sonhos empolgantes e muito agitados ou pesadelos em que é dominado por forças e seres desconhecidos e assustadores que tentam destruí-lo ou dominá-lo de forma irresistível.

Estes excessos das farras desregradas que de início tanto o entusiasmavam, começam agora a aborrecê-lo, sobretudo porque as compara com o bem-estar, o saudável entusiasmo e alegria que a proximidade de Simesmo lhe proporciona.

Estranhamente, Simesmo parece aceitar com naturalidade tudo o que acontece! Quando ele está por perto, no entanto, todos percebem melhor o que é importante e o que não o é. Também reparam que tudo o que precisam acontece com mais facilidade, surge como que por encanto e sempre exactamente quando é necessário! Parece milagre!

Se Eu se afasta da sabedoria ancestral de Simesmo, torna-se logo mais difícil discernir quais as melhores escolhas em cada momento, como e quando agir...

Uma coisa é certa: todos e cada um percebem cada vez melhor o papel que lhes compete desempenhar nas tarefas comuns. Antes, pareciam ser forças separadas umas das outras, mesmo antagónicas, o que ainda por vezes acontece. Mas cada vez mais se reconhecem como fazendo parte de um mesmo Eu e actuam em fraterna cooperação.

Mais uma vez, Eu recorre à sabedoria dos Mestres:

- Os andares que já conheço representam diferentes níveis da minha psique, como falámos. E os andares que ainda não visitei?

- Deixa-te conduzir por Simesmo. E confia em Vontade e Intenção, tirando o máximo partido dos seus pós mágicos Coragem e Atenção Interna e logo descobrirás – aconselham com firmeza.

Eu de Todos Nós sabe que enquanto viveu como Ego confinado ao nível do r/c, pouco conseguia vislumbrar. A casa que outrora achava muito grande – no tempo em que era um Ego mimado e protegido pela mãe Id e pelo Pai Super – parece agora muito pequena, com poucas e baixas janelas junto ao chão.

Olhando para trás, para o caminho percorrido, perguntam uns aos outros ainda incrédulos:

- Como nos foi possível chegar até aqui?!

- Certamente com a colaboração de todos, da 2ª cave ao 2º andar e também, especialmente, com a orientação dos Mestres que conhecem bem o Caminho por já o terem percorrido, e das boas Fadas Vontade e Intenção que sempre nos ajudam a prosseguir. – responde Eu de Todos Nós.

- De facto – confirmou Intenção - já estamos bem à vontade na comunicação entre nós. Sabemos agora exactamente quais as características e o que podemos pedir e esperar de cada um, o que cada um precisa, a forma como age e reage, as regras que pautam a sua conduta.

- Até mesmo os duendes Impulsos, Afectos, Pensamentos e Visões! E essa - diz a Fada Vontade - é uma grande prova da nossa crescente maturidade.

Todos escutam Vontade e Intenção com grande respeito. Elas sempre lhes recordam os bons conselhos de Mãe Id e Pai Super. Ficam por isso muito comovidos e orgulhosos ao se aperceberem que pela primeira vez elas falam na primeira pessoa do plural. Ao dizerem “nós” aceitam-se agora também elas próprias como partes do mesmo Eu!

Todos os habitantes do Edificio se sentem mais do que nunca harmonizados como um só, embora reconhecendo-se todos diferentes. Cada um com sua especificidade, podendo todos contribuir para o bem comum.

Já não precisam de se impor prepotentemente uns aos outros, guerreando-se pelo poder de controlar a gestão do Edifício, o que não era, como agora reconhecem, senão uma atitude de auto defesa em relação aos próprios medos e inseguranças, sinal de uma frágil identidade, uma fraca vontade e pouco clara intenção.

Todos os Edifíciosdeser desta Villa têm, potencialmente, os mesmos andares: r/c, 1º ao 5º andar e suas respectivas caves.

Nalguns Edifícios existem andares que parecem desabitados; é sobretudo o caso dos andares mais altos e das caves mais abaixo. Pelo menos é o que asseguram os Egos, seus proprietários. Se calhar porque não arranjaram ainda a Vontade e a Coragem necessárias, de que o nosso Ego fez prova, para os explorarem. Por isso desconhecem quem os habita e ignoram o que aí se passa. Assim, preferem dizer que não mora lá ninguém e continuam distraídos, absorvidos pelas tarefas do dia a dia contando simplesmente com seus vizinhos dos 1ºs andares.

Diversidade do saber e unidade do ser

Eu constata que para falar dos assuntos do rés-do-chão a linguagem considerada adequada pelos Mestres da Escola da Vida é bem concreta e utilitária: eles explicam com insistência que as regras ou leis e os próprios valores que regem os assuntos desse andar mais básico são as próprias da materialidade e das ciências ditas exactas como a Física, a Biologia e a Economia aplicadas.

O que é, nos níveis dos r/c’s, considerado verdadeiro e certo tem a ver, mais directa ou indirectamente, com a posse e a acumulação de bens materiais, seja por um indivíduo, seja por um qualquer colectivo. Por isso se diz que o egocentrismo impera nestes níveis com todo o vocabulário que lhe é inerente.

Já quando falam dos assuntos dos 1ºs andares e caves onde habitam as Famílias Duais de cada Edifíciodeser, a linguagem torna-se um pouco mais intimista e subjectiva e os assuntos tratados são, preferencialmente, os da interioridade psicológica individual. Domina aqui a linguagem de ciências humanas, como a psicologia. O que tende a ser aceite como importante passa a ser mais relativo ao “pensar” e ao “sentir”, e menos ao “possuir”; mas continua bastante centrado nas necessidades e nos interesses individuais.

Nos 2ºs andares e caves a comunicação, a troca de energia, é mediada pelos símbolos e pelos arquétipos e não pelos bens materiais. As Famílias Psi Colés com seus contos, mitos e experiências energéticas, impõem uma forma de comunicação de carácter eminentemente metafórico e intuitivo, só compreendida em mais profundidade por quem já contactou a potência das energias do psiquismo inconsciente, da 1ª e 2ª caves.

No exame final do secundário Eu obtém uma distinção com a exposição oral em que afirma:

-“Á medida que os meninos Egos vão crescendo e melhor conhecem as forças de vida que existem em Simesmos, ficarão cada vez mais conscientes da sua identidade própria e das suas escolhas.

Então, enquanto Eus, observadores e auto conscientes de Simesmos, podem candidatar-se voluntariamente à Universidade da Vida, dispostos a melhor se conhecerem e aceitarem, a si e aos outros e a tornarem-se melhores seres humanos. A compreensão consciente das experiências de vida e de Simesmo vai-se assim alargando, na sua busca de resposta à pergunta: Quem sou Eu?”

Eu de Todos Nós sabe que precisa agradecer a distinção que obteve nas provas finais do secundário, à dica que Intuicional lhe sussurrou e com a qual concluiu a sua exposição embora sem compreender completamente o seu alcance:

- “Para além da diversidade do saber precisamos atingir uma unidade essencial: a unidade do ser... E é no cadinho do coração aquecido pelo calor da fogueira de Al Quimista que a fusão das forças de vida poderá acontecer, surgindo na consciência uma nova luz.”

Eu Cônscio de Simesmo, nova Identidade

Ao despedir-se dos seus Mestres do secundário Eu não resiste a perguntar-lhes:

- Como será no andar de cima?! Por muito que me esforce não consigo adivinhar!

 - Difícil? Curioso? Lembra-te do que aprendeste: caminha com Coragem e Atenção Interna, experimenta e observa-te. Assim descobrirás... – respondem eles, sorrindo carinhosos.

- A vida é uma fantástica aventura!!! – grita Eu da varanda do 2º andar, entusiasmado com os progressos conseguidos.

No mesmo instante, sente-se invadido por uma intensa leveza e claridade que parece vir de cima... Olha para lá e ...

- Olá – diz uma linda menina que lhe acena da janela do 3º andar. – Eu sou Alegria Nova! E tu, quem és tu?

Ao ouvi-la pronunciar a mesma pergunta que continuamente faz a si próprio ele sente o seu coração bater com mais força. Entre orgulhoso e tímido, responde:

- Sou… Eu!

- Pois vem ter comigo e prometo-te que vais descobrir mais ainda acerca de quem és!

- A aventura da descoberta vai continuar!!! - pensa Eu entusiasmado sem conseguir tirar os olhos da linda menina que lhe parece ter já conhecido algures nos seus mais belos sonhos...

Tão entusiasmado está com o aparecimento de Alegria Nova que, num súbito insight, exclama:

- Aquilo que no meu Centro sabe que sou, é a minha Consciência. Então… Eu sou Consciência! É essa a minha nova Identidade!

- Ao encontrar essa resposta conquistas o direito a ser admitido na Universidade da Vida, que eu também frequento. – diz-lhe Alegria Nova.

Mal “sente” Vontade e Intenção de conhecer melhor Alegria Nova que muito o atrai, de imediato “ascende” ao 3º andar:

- Afinal o elevador Cônscio também sou Eu!!!

A dimensão de Eu de Todos Nós é agora ainda maior. Como maior é o horizonte que pode abranger da janela onde Alegria Nova o conduz depois de lhe abrir de par em par as portas de sua casa.

- Parabéns Eu Cônscio !diz-lhe ela – Acabas de ganhar um novo nome! Deste um importante passo na descoberta da tua Identidade essencial e, já reparaste, estás agora mais iluminado! Mas essa, embora muiiiiiiiito importante, é só mais uma das respostas à tua pergunta… Outro ouro mais precioso, outra Luz Maior irás encontrar se prosseguires na tua busca, prometo-te !

Estas palavras de Alegria Nova lembram-lhe a busca de Alquimista pelo ouro que é luz … E tudo começa a ganhar para ele novos sentidos: ouro… consciência … luz?!…

Enquanto contempla o horizonte ao lado de Alegria Nova, ele pensa: “Será que existe uma 3ª cave?!”

Eu Cônscio apercebe-se que ganha cada vez mais velocidade e fluidez nas subidas e descidas entre os diferentes andares ou níveis de realidade. O seu cabo – ou eixo tecido de Fios de Ariadne - permite-lhe deslocar-se em segurança pois sente-se agora bem ancorado em ambas as extremidades. Talvez na próxima cave que visitar descubra onde se apoia este seu eixo, algures no interior da terra e mais além, para cima.... no céu?! Olhando não consegue vislumbrar com clareza...

Mas uma coisa é certa. Está mais completo, mais inteiro, mais vivo e luminoso. Todos o reconhecem. De tal maneira que até os vizinhos dizem com ar de brincadeira olhando para a fachada do seu Edifício:

- Olhem como brilham as janelas! Até parece que o Natal chegou mais cedo a casa do Eu Cônscio !

A velocidade a que Eu Cônscio se desloca entre os diferentes níveis do seu ser é cada vez maior o que muito contribui para lhe dar a impressão de transparência e esfericidade do interior de todo o Edifício, que se vem acentuando à medida que progride na sua (auto) exploração.

Num sonho lúcido que tem nesse mesmo dia vê os andares e caves do seu Edifíciodeser transformarem-se num conjunto de esferas concêntricas de diferentes tamanhos, tanto mais translúcidas e irradiantes quanto maiores são… Com uma cristalina mandala esférica de n dimensões, toda feita de Luz !








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