abril 27, 2020

UM MUNDO NOVO



P O E M A S   D E    

U M  M U N D O  N O V O

  

Carminda H. Proença
  



Pg
Abertura
3
Viagem ao centro de mim
4
Autocriação
5
Vibrações
6
Continuum(Ar)
8
Tríptico (Aguarelas)
9
Vertigem
10
Agni (Fogo)
11
Água
12
Poema sem nome
13
O é e o pode ser
14
Poema de amor
15
Abrir caminho
16
Vida
17
Celebração
18
Natureza
19
Perdidos
20
Descobrir-Abrir-Abril
21
Nestoutro Universos
22
Mulher
23
Fusão Origem
25
Meu caminho
26
Mar de mim
27
Desejo
28
Pedra Alta
29
Repetir
Esse estado amoroso de Ser
Alma nossa
Poema Oração
Solta-te!
Amizade
Sempre fomos…


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A B E R T U R A
  
O paraíso?   É aqui.
O fogo? Quase se vê...
Ouve-se na caldeira fervente.
É fim e é princípio
de toda a vida,
o magma incandescente.


Força telúrica, temível,
contida nesta beleza
que a cobre.
Sabe-se que existe;
mas quase se esquece
e mal se sente...


furnas, açores.



  
VIAGEM AO CENTRO DE MIM
  
"A busca de quem somos na distância de nós"
                                   Fernando Pessoa


   Eu fiz uma viagem
   no interior de mim
   e encontrei-me em ti.

   Procurei conhecer-me
   na distância de mim
   e descobri-me em ti.

   No regresso, conheci-me outra.
   E, pela primeira vez,
   gostei de mim.

   Eu fiz uma viagem
   na distância de mim,
   e inteira fiquei
   na memória que de mim encontrei.
                                    


A U T O C R I A Ç Ã O


Divisão interior.
Cisão esquizóide.
Que ao tocar-se, dói
ao tocar, se dói.

Atravessar a experiência
da divisão
pelo buraco negro do Universo
simétrico
na esperança de sair inteiro,
de ser de novo Um.

Aceitar a experiência
crística
de retorno ao Todo
atravessando a morte.

Aceitar o não ser mais
para Ser de novo.
Dualidade do ser e do não ser.
Dualidade do ser e do Ser.

Processo a fazer-se
por dentro
enquanto se vive.

Processo a fazer-se
na morte
(se morrer se souber...)

Autocriação. Cura.

Entender e aceitar a morte vivendo,
é viver.
O resto...é viver morrendo.


  
       
     V I B R A Ç Õ E S



   As palavras
   são vibrações.
   Como os silêncios.
   Só valem
   pelo seu eco
   no mais fundo de nós.
   Ressonâncias que somos
   em tubos
   de um mesmo orgão.

   Palavras e silêncios.
   Sons e pausas
   de uma única harmonia:
   o fluir
   da energia da Vida.




C O T I N U U M
(Ar)


      O dentro e o fora
      tudo é igual
      porque é distância
      além do consciente
      do aqui e agora.

      Se eu consciente for
      do dentro e do fora
      como consciente sou
      do eu que os delimita
      e os separa...

      Não há mais dentro
      e fora e eu.
      Não há mais
      consciente e inconsciente.

      Não há mais
      polaridade e contradição.

     Sou e não sou.
     Todo continuum é.

     No aqui de todo o lado
     No agora de todo o sempre.


  

T R I P T I C O
( Aguarelas )
  
  A fecundação...
  potência de ser
  entrando na matéria
  pelo vortex
  da carência e da obsessão.

  A explosão...
  purga da paixão
  rebentar dos medos
  o receber
  a submissão.

  A cura...
  transparência calma
  vazia e luminosa
  da própria matriz
  inteira
  harmoniosa.


  
V E R T I G E M
  

      Preparo-me
      em cada instante
      para viver em glória
      a minha morte permanente,
      pois logo já não sou mais
      o que até agora fui.

      Tomo fôlego.
      Determinada sigo
      na vertigem da viagem,
      no rodopio para o Vortex
      da minha própria matriz,
      descobrindo sempre
      novos e deslumbrantes Universos.

  


A G N I
(Fogo)
  
    Partilhar-me toda
    em cada instante,
    e estar sempre só
    inteira, em mim.

    Toda ligada
    e nunca presa,
    nunca partida.

    Solta e alegre,
    leve e feliz:
    não dividida.

    Inteira, isolada,
    na continuidade
    harmoniosa
    do dentro e do fora.

    Só, mas em um Todo;
    sempre toda no todo Um.

    Vibração constante.
    Constante latejar.
    Ser interior ressonante.

    Viver.
    Feliz.
    Amar, sem receber nem dar.

     Vibrar com tudo
    sem uma parcela
    perder ou tirar
    da substância que sou
    ou não sou.

    Nenhum poder mais
    nada tem sobre mim.

    Esta é a lei do Universo:
    na harmonia do Todo
    o poder não existe.
    Só o Todo é poder.

  

Á G U A


 Fluir e vibrar
leve
sem nada receber
nem dar
da substância essencial
interior.

Moldar-se
nas formas
de todas as estruturas
sem resistir;
só sendo
o que se é.

Responder
ao todo
transformando-se
com ele
sem nada deixar
de ser.




P O E M A   S E M   N O M E



As coisas só são
o que nós sentimos
que são.

Quando as sentimos
de outra maneira,
elas deixam de ser...
o que são.

É por isso
que as coisas são
sempre
o que são.



O  é e o pode ser
(Terra)

  
Velhos companheiros
de jornada
somos e seremos
desde sempre
para sempre
enquanto tudo for...

Mais importante
do que querer (sem poder)
esgotar tudo
num aqui, num agora,
é viver bem fundo
cada todo do pouco que seja,

porque só o todo é
a felicidade única,
na dor do pouco
a que sabe o pode ser.

  
    
P O E M A   D E   A M O R


Eu quero ser capaz
de me oferecer a ti
toda
por inteiro
aqui.

Vibrante na emoção
de deixar de ser.

Explodindo
cada instante
em cada fibra
no êxtase
supremo
do prazer.

Eu quero morrer em ti
para em mim reviver.
  


         ABRIR CAMINHO
  

No limiar de uma outra adultez,
Insegura sim; mas curiosa mais...
Abro caminho virgem,
o meu caminho.

No todo, mas só.
Na universalidade, mas único.

Só ao caminhar existe.
Minha criação.

Liberdade,
que destino se torna
por vivido ser.



V I D A


Tão só um início
incipiente
da caminhada.

De algum modo sabemos
na memória
do nosso inconsciente
oculto,

Que a tremenda potência
do princípio
será também o fim
a chegada.

Trememos e vibramos,
hesitantes
entre o ir e o ficar.

Fugir?

Não nos foi dado
o poder de não partir.

Será nosso
o poder de não chegar?




C E L E B R A Ç Ã O

  
      Celebro
      a minha entrega
      à Tua Vontade.

      Que a harmonia
      do Teu Poder
      - meu Todo -
      se cumpra em mim.



N A T U R E Z A
  

Cada vez menos
sou eu que vivo.

Cada vez mais,
ser interior,
és tu em mim.

Olhando
pelos meus olhos
te deslumbras
com este entardecer
todo de espanto!

Meu critério
não é mais
a obra do homem,
mas a Natureza.

Meu olhar,
(porta aberta),
consente esta harmonia
em mim!

                      

P E R D I D O S
  

    A
    TUDO
    vou beber tudo
    o que afinal já sei...
    Esquecidos andamos
    nas palavras;
    perdidos de
    que TUDO
    SÓ JÁ
    É.
  


DESCOBRIR - ABRIR - ABRIL (*)

  
Meu corpo mar país
sofrendo
como antes
dores felizes
dum parto transmutação.

Abril, meu Abril,
sangrado de rosas e cravos,
tão novo e só...

...só de dentro para fora
Abril aberto:
além do mundo descobrindo...
descoberto!

Meu regresso.
Meu vibrante Lá.
Canção caravela
vela livre
que em Abril abriu
no coração
novo Universo.

                  
 (*) Poema premiado no Concurso de Literatura e Artes Plásticas sob o tema "Os Descobrimentos Portugueses" promovido pelo C.C. Fonte Nova em 1991, Lisboa, com o apoio da Comissão Nacional dos Descobrimentos Portugueses.




NESTOUTRO UNIVERSOS

  
No tempospaço
destoutro universos
algures aqui,
o há-de ser já foi.

Todos os encontros
mesmo os desencantos
plenitude são
no há-de ser já foi
do tempospaço
algures aqui
destoutro universos.

É, toda a Poesia.
É, todo o Amor.

Lugar para a tristeza
não há.
Nem posse, nem poder.
Nem perda. Nem medo.
Nem não viver.

Consciência minha,
Meu coração,
Aberto vibra
E inteiro vive,
No tempospaço
Destoutro universos
Algures aqui.



M U L H E R


Teu corpo sangra.
E nessa morte
renasces
eternamente,
num redondo
sem princípio
nem fim.

És.
Fecunda, sempre.

Forte na partida
no prazer da diáspora,
cumprida.

Doce no regresso
aberta
consentindo em ti
outras vidas.

Sem mais dôr
de (te) prenderes
no desejo vazio
que já não és.

Corpo terra,
mar sangue.
Mulher vida.
Mãe.
Pátria.
Amada amiga.

Toda vazia
só podes receber.

Potência de ser.
Consagração amorosa
do poder de criar.

Corpo
sacrário ardente
teu fogo resplandesce.

Emoção interior
união semente
lua autogerando
no ventre
O que recebes
de um sol...

Rende-te.
Incendiada
aberta que foste
pela chave do sagrado
para sempre...

  

  
FUSÃO ORIGEM


Na semente
os extremos se tocam:
surge a vontade
de nascer...
... nasce a vontade
de viver.

Na vida
os extremos se afastam:
surge a vontade de morrer...

Tudo se enovela
até Tudo de novo ser:
e a semente da vontade de viver
volta a nascer!



MEU CAMINHO


       Minha lua abaixo
       crio raízes
       atrás
       no tempo.

       Do Universo
       bebo
       a força luminosa,
       por meu Neptuno.

       Soltos os medos
       as obsessões
       sôo
       radiante e leve!

       Outrora já liberta
       (só agora fraterna...)
       feliz
       na estima de mim.

       Expande-te consciência!
       Salta na fusão
       sem limites
       em que o ego morre...

       Certeza integradora
       do absoluto.
       Missão
       que docemente se cumpre.




MAR DE MIM...
Sesimbra

  
Entrei na vida
por porta
rochosa e agreste
já feliz e livre.

Vim de novo sofrer
ilusões
de ser encarcerado.

Metade da vida
esquecida do que fui
só a meio lembrada,
faço a ponte...

e deixo-me fluir
deixo-te fluir
coração bem aberto.

Para isso voltei.
Para ser rio de ti
para ser mar de mim...

                            

D E S E J O
  

Este pouco de mim
só em ti pode crescer
ligados que estamos
ligados que fomos
ligados que aceitámos ser
esse pouco de ti
só em mim
pode acontecer...


Ligados que estamos
ligados que fomos
unidos que nos desejamos
algo em cada mim
só em cada ti
pode
Ser...

  

“P E D R A    A L T A” (*)


Na praia
sentada na Pedra Alta
perguntei ao meu corpo:

"o que é que em mim é Terra?"
...Senti meu peso
na dureza da rocha fria
e minha própria solidez
ao tocá-la...

"O que é que em mim é Água?"
O barulho exaltado
duma emoção ondulada
a quietude tranquila
dum silencioso marulhar,
no interior de mim senti...

"O que é que em mim é Ar?"
Por cima da minha cabeça
vi meu pensamento partir,
turbilhar...
Senti na brisa leve e fresca
longínquas mensagens
acariciando minha pele
em íntimo diálogo...

 Finalmente perguntei
ao meu corpo
(ansiosa por senti-lo):

"O que é que em mim é Fogo?"
Um suave incêndio
de pronto flamejou
e ao calor do sol
numa tocha ardente
toda me tornei...

 "De onde vem tanta força?
Tanto poder?" Perguntei.

Por trás das pálpebras cerradas
tudo, de repente, se ilumina!
E do centro de mim
-cadinho alquímico-
é meu coração
quem responde...

"Da substância prima
do solvente Universal
do Caos que tudo cria...
...o Amor..."


(* ) PEDRA ALTA 
Poema "Pedra Alta" que recebi  em dia de Sol brilhante na praia de SESIMBRA, sentada na pedra conhecida por esse nome porque é sempre banhada pelas marés mas nunca coberta pela areia. Só muito mais tarde vim a saber que tinha aparecido na Pedra Alta em tempos a cruz do Senhor Jesus que ficou então a ser Padroeiro de Sesimbra com o nome de Senhor Jesus das Chagas. 
Ver a história aqui.
Segundo Ruy Ventura, esta rocha pode ter sido usada em tempos antigos como um altar de culto.




R E P E T I R
  

Repetir para quê?
Se cada momento
vivido no seu pleno
é sempre mais belo
que qualquer repetição?

Repetir para quê?
Repetir
é encontrar desilusão!



ESSE ESTADO AMOROSO DE SER

Esse estado amoroso de Ser
Criador e Criatura

De ser voz
de ser pedra
de ser nada...

De ser uma só contigo,
de sermos os dois, um  só Outro.

Esse estado amoroso de Ser...

Esse estado de, amorosamente,
Viver!



ALMA NOSSA


Meu irmão
na alegria da tua presença
permanente
não há lugar para a saudade...

Minha amiga
no calor do teu regaço
aconchegante
não há lugar para a solidão...

Meu Amado
na Manifestação
da Tua Presença iluminante,
dá-nos a Graça do receber e do dar.

Terna felicidade
Este irradiante bailado de alma nossa!



Poema  O R A Ç Ã O


Então a única coisa que eu tenho que fazer é oferecer-me à Tua Graça / Merçê / Vontade como um elo que n’Ela me descubro, de uma imensa Realidade transbordante de Amor?

E, pela Tua Graça, crescer / expandir-me na consciência / sabedoria da qualidade / timbre de que sou feita / me fizeste?

Assim, posso ir (re)conhecendo-me e ao “grupo de almas” a que pertenço, aos cachos de qualidade / timbre / vocação afim?

Como Tudo se torna mais claro às nossas consciências quando nos afinamos juntos, pela união da comum intenção, da intenção certa da nossa comum missão específica para o bem da humanidade, para a plena Glória da Tua, e nossa, Manifestação!

O que houver a fazer Tu m'o indicarás e abrirás meus caminhos, eu sei!

Assim estejam os meus sentidos (interiores e exteriores) abertos e atentos (aware), dispertos, para Te (re)conhecer….

Assim esteja a minha alma alegre e serena para Te receber e espelhar, como o lago recebe o riacho cintilante, brilhando à luz do Sol…

Assim esteja o meu espírito leve, vibrante e cristalino para ressoar na Tua Palavra e levar Teu eco na brisa, ao redor, por entre planícies, fragas e montanhas…

Aqui estou, Agora. Presente, Te aguardo, meu Bem Amado.



SOLTA-TE!

Solta-te!
Solta-te e voa, leve, num bailado sem peso,
de alegria esvoaçante,
minha alma, meu ser…
Solta-te e voa!
Entrega-te sem receio algum,
ousada e submissa…
Banha-te na Fonte que te viu nascer!

  

AMIZADE 

  
Só tu rasgas um sorriso em meus lábios
Quando estou triste

Só tu vertes estas lágrimas
Em meus olhos,
De serena paz
E amorosa entrega

Só tu...
Meu muito
Muito querido
Meu amado
Meu amigo !



SEMPRE FOMOS ...


Procuro-te fora de mim
E não te encontro.
Percebo então que olhas, por meus olhos
Sorris, na minha boca
Teu coração bate no meu...

Já não somos dois mas um só.
O Um que sempre fomos...
O UM que sempre somos.

Pois Tu, Amor, vives em mim!