Eu
Cônscio na Universidade
da Vida
A Família Alma
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3º ANDAR
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Encontro com Minhalma
e Alegria
Nova
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Além da Bolha da Psique
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Pomba Branca
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O Templo Interno
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Atenção e Guia Interna
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3ª CAVE
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Noite escura
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Suasombras
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A Chave Compaixão
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Perdão e Aceitação
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Em direcção a Luz
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Torre de Babel
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Sou Alma
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O ensino básico da Escolinha é destinado aos Egos e Duais que nela são inscritos pelos seus pais. Alguns ficam pelo caminho. Outros continuam para o secundário, onde se encontram com Simesmo e se transformam em Eus auto conscientes.
Concluído o
secundário, os Eus Cônscios que
escolhem prosseguir a sua formação candidatam-se à Universidade da Vida.
Para entrarem
precisam fazer prova da Vontade e da Intenção necessárias para prosseguirem
na viagem da auto descoberta, ou seja, precisam mostrar que já possuem a
necessária Coragem e Atenção Interna.
Os Assistentes deste novo ciclo de
aprendizagem parecem saber o que ensinar exactamente e em cada momento, a cada aprendiz:
o que é preciso transmitir e de que área do saber, para responderem às
interrogações ou ajudar nas dificuldades que surgem.
Na Universidade da Vida já não existem
disciplinas separadas. A formação é dada a partir das necessidades de cada um e
para cada momento particular.
E faz todo o
sentido, pois as diferentes forças da psique, individual e colectiva,
consciente e inconsciente já se encontram integradas numa mesma identidade
individualizada e auto consciente: um Eu Cônscio.
Embora os conhecimentos
que aqui recebem fluam de um único e mesmo Saber, rapidamente se apercebem que
os Assistentes, e também os outros
alunos mais avançados (não necessariamente mais velhos...) têm o maior cuidado em
usar um vocabulário diferente conforme falam de assuntos mais relacionados com
um ou outro dos andares ou níveis de ser, explicando que a mesma palavra tem
quase sempre sentidos diferenciados conforme os níveis de consciência com que é
dita e escutada.
O Mestre Reitor do universitário acolhe os
novos alunos com ternura e ouve-os com toda a atenção e respeito. Explica-lhes
que, no entanto, nem sempre as Escolas da
Vida foram assim:
- Como sabem, no nível secundário as diferentes matérias são
dadas em aulas separadas e os conhecimentos transmitidos parecem algo distantes
uns dos outros e também distantes da vida de cada um... Muitos deles precisam
ser “aprendidos” com a mente, memorizados e por isso os Intelectuais e os Recordações
são geralmente os melhores alunos. Os restantes nem sempre conseguem
interessar-se por todas aquelas coisas de que não lhes explicam a utilidade para
as suas vidas e preferem as aulas práticas, as actividades mais lúdicas e o
alegre convívio; e nos jogos que livremente fazem podem aprender a conhecer-se
melhor uns aos outros e a eles mesmos, o que é muito importante! Pena é que não
sejam orientados nessa descoberta e acabem muitas vezes irremediavelmente
fixados aos seus Egos básicos, de
forma desintegrada, arrastados pelos Dual
e seus Duendes de um lado para o
outro.
E continua:
- Raras
vezes, porém, aparece um Mestre que
lhes fala de outra maneira: de dentro, do “centro” de seu ser. Então todos os Eus ficam de olhos esbugalhados e
ouvidos atentos. Sentem que tais palavras ressoam no seu interior e ecoam no
seu coração. É fácil absorvê-las e, sem ser preciso estudá-las ou decorá-las, é
possível lembrá-las exactamente no momento em que podem ser úteis. Essas são as
aulas preferidas às quais ninguém falta e até há corridas para conseguir lugar
nas primeiras filas!
Eu Cônscio deseja do fundo do seu coração que todos
os Mestres sejam assim pois sente que
junto deles fica cada vez mais completo.
- Felizmente aqui
na Universidade da Vida só pode
ensinar quem saiba falar de dentro de
Si com a sua própria verdade sincera,
com um saber vivido e vindo do coração, do centro do ser. E, mais difícil
ainda, saiba também ouvir com o coração, com a escuta interior…Percebes a
diferença? – pergunta Mestre Reitor.
- Parece-me
que sim… - responde Eu Cônscio.
Ainda
inseguro, medita em como a compreensão de tanta coisa tão importante lhe esteve
oculta até agora.
Lembra-se de
alguns Egos seus vizinhos que nunca
se interrogaram como ele, vivendo toda a sua vida nos r/c’s e nos 1ºs. Outros
ainda, só tarde começaram a interrogar-se: muitas vezes em situações limite.
Eu Cônscio, pelo contrário, desde muito cedo que sente
dentro de si um apelo a que não pode resistir! Uma pergunta que o move e é
acompanhada de muitas outras. E neste momento as respostas que procura passam
pela entrada na Universidade da Vida e
pela exploração dos restantes andares.
A primeira
coisa que os Assistentes têm o
cuidado de lhe dizer é que não vai conseguir explicar nem compreender tudo o
que a partir de agora lhe irá acontecer com os saberes e capacidades próprios
dos andares que já conhece:
- Precisarás
lembrar-te disso nos momentos de maior aflição, pois a partir de agora tens de
ser tu a conseguir encontrar o teu Caminho.
Que será que
o espera? Interroga-se, algo ansioso.
A
Família Alma
3º ANDAR
Encontro com Minhalma e Alegria Nova
Com a
admissão na Universidade da Vida, Eu Cônscio recomeça a sua viagem de
descoberta explorando mais este andar onde vive a Família Alma, conforme lhe revela a menina da janela:
-
Apresento-te Minhalma – diz-lhe Alegria Nova. - Ela é a minha mãe.
Eu Cônscio volta-se e vê uma luminosa e etérea
figura que se aproxima como que voando.
É invadido de
imediato por um sentimento de reencontro com alguém muito querido e que já não
vê há muito, muito tempo…
- Parece que
sempre te conheci! - murmura ele muito comovido, num som quase inaudível…. -
Sinto que vim até aqui porque no mais fundo de mim, desde sempre ecoa o teu
chamamento! Reconheço-o agora.
Minhalma sorri olhando-o com ternura.
Acompanha-a
um perfume e uma melodia suave que parece sair de uma harpa invisível. E que
sensação de paz e de preenchimento o envolve na sua presença!
É sem dúvida
uma Grande Senhora; leve, calma e carinhosa pronta a escutar e ajudar, a dar e
receber sempre com a mesma humildade e solicitude.
Tudo em sua
casa convida à contemplação, ao recolhimento e à escuta interior. Ao falar e
ouvir a partir do âmago do ser.
Tão fraterno é
o seu acolhimento que Eu se sente à vontade
para voltar. Sempre que os assuntos do dia-a-dia lhe permitem momentos de pausa
e contemplação gosta de ficar recolhido na sua presença, em silêncio.
Após algum tempo
de convívio resolve convidar Minhalma a
acompanhá-lo a casa dos vizinhos de baixo.
- Acho que vão
gostar de te conhecer – diz-lhe sorrindo.
Ela acede
pois sabe como é necessário que todos se conheçam melhor. Mas Eu Cônscio nota que ela não se sente
muito à-vontade na casa dos Psi Colé
super cheia das coisas mais inesperadas e que fica algo fatigada com a barulhenta
e controversa atmosfera dos Dual no
1º andar.
Por sua vez
os Dual, cheios de curiosidade,
retribuiem a visita a convite de Minhalma;
mas perdem rapidamente o entusiasmo ao “sentirem” o silêncio que inunda
todo o ambiente. Sem darem por isso começam também a falar baixinho entre si.
- Que
aborrecimento! - sussurra Emoção.
Sensual já não aguenta mais ficar quieto e sentado
bebendo chá de ervas!
Intelectual pensa: “Uhm… Não vejo estantes com
livros… Onde guarda Minhalma os tratados
secretos de que falam alguns dos colegas mais estudiosos lá da Universidade?”
Quanto a D. Transpessoal, custa-lhe perceber como
alguém pode sentir-se bem numa casa tão vazia! Ela, que convive com tanta gente
interessante, magos, gurus, videntes, feiticeiros, curadores e tantos outros,
ela que tanto gosta de experimentar todas as novidades para aumentar os conhecimentos
e habilidades, tem a maior dificuldade em perceber o que Minhalma quer dizer com “precisamos estar vazios por dentro para
podermos receber…” Receber?! O quê??? Não lhe parece que ela se refira aos
pagamentos, por vezes bem exagerados, que alguns dos seus amigos cobram pelos
serviços que prestam.
Acha, por
isso, completamente desnecessário e uma pura perda de tempo a necessidade que
sente Minhalma de limpar a 3ª cave para
criar mais espaço.
“Ainda mais
espaço?! Estará ela à espera de alguém?” Pensa. Por delicadeza não diz nada,
mas curiosa como é presta-lhe mais atenção e, de facto, nota por vezes uma
certa nostalgia no seu olhar… Como uma profunda saudade…
Geralmente isso
acontece quando Alegria Nova se
esquece de abrir as janelas. Então a casa parece mais escura, não se ouvem
risos e Minhalma perde muito do seu
brilho.
Além
da Bolha da Psique
Minhalma percebe a estranheza que causa aos
vizinhos a sua maneira de ser:
- Sei que os surpreende
a minha forma de vida. Mas estou certa de que com o tempo se irão habituar e
ficaremos todos bons amigos.
Dirigindo-se
a Cônscio:
- O convite
que te faço, Eu Cônscio, é que aprendas
agora a soltares-te do que chamo a Bolha
da Psique, de todos esses ambientes a que te habituaste, para poderes
aproximar-te mais de mim, conheceres-me mais intimamente. Podes crer que não te
vais arrepender! Uma vez que o consigas todos os teus companheiros de jornada
quererão acompanhar-te.
Eu Cônscio não sabe a quem dar razão. Continua a
sentir-se muito atraído por todo o ambiente algo mágico e fantástico dos serões
de D. Transpessoal e pelas
emocionantes incursões a casa de Al
Quimista que lhe proporcionam ensinamentos cheios de promessas de
extraordinários efeitos, muito para além do alcance dos que escolheram ficar só
com o nível básico da Escolinha da Egovilla.
Habituou-se a
ouvir D. Transpessoal e o Sr. Al Quimista usarem a palavra
“espiritual” referindo-se a muitos dos estados que em casa deles experimentou:
fenómenos paranormais de clarividência, telepatia ou telecinésia ou os estados
modificados de consciência que vive a partir de técnicas de imaginação activa,
de relaxamento profundo, de regressão, meditação, etc, e que também proporcionam
estados interiores de paz e serena amorosidade.
Mas… serão
esses fenómenos ou estados realmente “espirituais”? Começa a interrogar-se,
agora que conheceu e pode sentir algo diferente na presença de Minhalma e Alegria Nova. Na verdade, parece-lhe que ainda não sabe muito bem o
que “espiritual” quer dizer…
Lembra-se que
os Mestres do secundário ora usavam as
palavras psique, alma e espírito como se fossem sinónimos, ora parecia que as
empregavam com significados distintos, o que sempre o deixava um tanto confuso…
- Chegou a
altura de esclarecer melhor todas estas coisas. – pensa – De que fala Minhalma quando diz para me soltar da Bolha da Psique?! Acho que é uma ideia
que merece atenção. De facto, pensando bem, existe aqui qualquer coisa de
diferente do ambiente dos 1ºs e 2ºs, mesmo até da expansão e do bem estar que se
alcança com a prática de exercícios de imaginação e meditação.
Quanto mais
tempo passam na companhia de Minhalma
mais podem sentir como subtilmente vão sendo esvaziados da agitação psíquica e transformados
a partir de dentro… Até os duendes, os irrequietos servos dos Dual, se aquietam a ponto de ficarem
submissos e dóceis – o que é algo absolutamente inesperado – aguardando respeitosamente
serem chamados por Eu Cônscio a agir
quando necessário. E isto sem perderem nada do seu natural entusiasmo e
qualidades próprias, antes pelo contrário!
-
Definitivamente – concordam – nada do que conhecemos antes se pode comparar ao
que agora vivemos em casa de Minhalma!
Continuam, assim,
a visitá-la regularmente movidos pela curiosidade de desvendarem mais este
mistério…
Por vezes
ficam simplesmente juntos, de olhos fechados, em escuta interior vazia de
qualquer agitação mas atenta. Partilham depois um ou outro sentimento que
“recebem de dentro”. Nessa partilha descobrem uma nova forma de comunicação
onde um amor fraterno se revela, sem julgamentos nem condições, sem interesses
nem expectativas…
De facto, nunca
até agora tinham conseguido tal silêncio sabendo a tamanha paz de uma forma tão
espontânea e sem necessidade de usar quaisquer técnicas preparatórias ou
exercícios repetitivos! De cada vez que visitam Minhalma “recebem” espontâneamente algo diferente. Algo diferente
que, subtilmente, os vai transformando…
Pomba Branca
É
precisamente num desses momentos que Eu
Cônscio ouve um bater de asas e
abrindo os olhos vê uma lindíssima Pomba
Branca pousar no parapeito da janela que Alegria Nova acaba de abrir.
Uma nova
experiência se inicia e vem dar razão às suas interrogações. Minhalma que estava meio adormecida,
acorda com o bater de asas roçando ao de leve a sua face e começa
espontaneamente a mover-se numa espécie de bailado. Todos se sentem, de
imediato, impelidos a acompanhá-la, unidos numa dança criativa sem padrão nem
regra definida...
Sentem-se a flutuar,
bailando em suspenso e o canto que lhes vem de dentro faz coro com os risos de Alegria Nova e o bater de asas de Pomba Branca. Minhalma recupera de novo
o seu brilho.
Mais tarde, Eu Cônscio conta o que vivera a um dos Assistentes da Universidade da Vida. Ao ouvi-lo
e senti-lo interiormente, ele simplesmente declara, com firmeza:
- A tua
estada aqui está prestes a terminar. Quando aqui chegaste já te reconhecias
como ser único que és e sabias integrar as Forças de Vida. Elas convivem
harmoniosamente em ti sentindo-se completas e pacificadas; sabes como chamá-las
para agirem e como aquietá-las quando querem intervir em excesso, de forma
descontrolada ou, pelo contrário, estimulá-las se se encontram demasiado alheias.
- Agora, o
mais importante de tudo é que finalmente sabes como soltar-te da Bolha da Psique ao acompanhares Minhalma no silêncio da escuta atenta e no
bailado do movimento espontâneo que também já sentes chegar quando ficas atento
ao mais íntimo de ti!
- Embora
ainda não dês muito por isso, começas a poder contar com a preciosa ajuda de Guia Interna; brevemente irás reconhecê-la.
- Ah… Intuicional já nos “soprou” qualquer
coisa acerca dela… – lembra Recordação.
Alegria Nova revela-se companheira inseparável de Pomba Branca. Sempre que vê Minhalma mais tristonha corre à janela
para chamá-la. E ela traz no bico um raminho de oliveira ou uma flor cheia de
um perfume raro e delicioso para lhes oferecer. É de grande alegria e paz o
sentimento contagiante que delas emana quando estão juntas!
A verdade é
que ficam todos muito inspirados sempre que Pomba
Branca entra pela janela da casa de Minhalma.
Os seus sentidos vão ficando cada vez mais apurados e de quando em quando
podem mesmo sentir os suaves perfumes e harmoniosas vibrações próprias deste
andar.
Por vezes,
quando encontra Minhalma mais entregue
e receptiva, Pomba Branca dá-lhe
pequenos papiros irradiantes de luz; nesses momentos Eu Cônscio recebe imagens límpidas e certezas profundas duma grande
simplicidade e evidência. São diferentes das Visões de Intuicional e
das previsões dos astrólogos ou dos sonhos lúcidos dos 2ºs pisos. Estas “evidências”
simplesmente irrompem na visão interna e enchem-lhe o coração com um sentimento
algo sagrado, muito íntimo, do âmago do ser…
O Templo
Interno
Donde virão?
Interroga-se.
Quando
perguntam a Pomba Branca onde mora,
ela voa para o andar de cima e parece incitá-los a seguirem-na. Mas como?! Não
sabem voar!... E não encontram aqui escada, nem o elevador parecer funcionar mais
para cima…
Um dia, Minhalma faz um convite a Eu Cônscio:
- Agora que
já nos conhecemos bem gostava que me acompanhasses até à minha sala preferida.
É o meu templo de louvor e adoração, um espaço sagrado, interior, mesmo no meio
da minha casa. Esse espaço - que cuidadosamente conservo limpo e vazio – é onde
melhor sinto Guia Interna e nele
espero receber Spirit, o nosso
vizinho de cima, cuja essência me vem sendo revelada nos papiros de Luz que Pomba Branca nos traz.
Cônscio sentiu-se muito honrado com este
convite. Era uma prova de grande confiança e estima. De íntima cumplicidade.
As visitas de
Pomba Branca acordam nele uma Força
que, espontaneamente, o faz mover e cantar. Essa Força é como uma bússola, um
Poder que o orienta a partir de dentro, numa ou noutra direcção, sempre que lhe
presta atenção; essa Atenção Interna sem
a qual não teria aprendido nada neste andar.
- Serão estes
movimentos mais uma partida de Imaginação
e dos duendes Impulsos?
- Não – responde
Minhalma – Nem tão pouco dos Afectos, Pensamentos ou Visões pois estes movimentos nada têm a
ver com qualquer desejo, posse ou expectativa próprios dos 1ºs e 2ºs níveis de
ser. São mesmo independentes da Vontade
e da Intenção. Surgem simplesmente e
animam-me: movo-me porque Algo Vivo acorda
em mim e vos contagia!
Atenção e
Guia Interna
Cônscio recorda as palavras que o Assistente da Universidade da Vida lhe disse e começa a suspeitar que esta Força que
os move tem a ver com a tal Guia Interna
de que ele lhe falara. Resolve ficar mais atento e assim vai aprendendo a
reconhecê-l’A.
A amizade e a
proximidade entre Eu Cônscio e Minhalma estreitam-se de dia para dia. A
tal ponto que é já junto dela no 3º andar que mais se sente em casa. Assim sendo, com
a anuência de Minhalma resolve transferir para este andar o Centro de Gestão de todo o Edifício. Passam todos a reunir-se aqui.
Outra
novidade que os deixa maravilhados é que conseguem ver com maior nitidez e
discernimento quando olham do 3º para os andares de baixo. Melhor do que se lá
estivessem!
Desde que Eu Cônscio aprendeu a soltar-se do espaço
interno confinado à Bolha da Psique, o
Edifício ficou mais transparente à
sua visão e tudo é mais claro e fácil de resolver.
Cada vez ouve
melhor Guia Interna e a escuta com
mais Atenção. De facto, sempre que aceita
segui-la, tudo corre bem. Quando faz de modo diferente, tudo tende a
complicar-se e, assim sendo, torna-se fácil confiar e fazer o que ela lhe
indica. Se Duais e Psi Colés por vezes ainda levantam
objecções, escuta-os atenta e carinhosamente, procurando atender às suas
necessidades e, em fraterno diálogo, restabelecer a unidade de acção sob a sua
direcção. Todos vão assim aprendendo a conhecê-la e respeitá-la.
Mas… de onde
vem essa Força, esse Poder que assim os guia por dentro, os eleva e os
transmuta…? Sim, porque ao olharem para trás apercebem-se quanto mudou o seu
comportamento quase sem darem por isso…
3ª
CAVE
Noite
escura
Eu Cônscio convive agora muito de perto com Minhalma e apercebe-se que por vezes o
seu olhar revela uma tristeza e uma ânsia profundas. Nesses momentos perde
parte do brilho e da leveza que a caracterizam. Ele próprio fica mais frágil, a sua “visão” turva e tem mais dificuldade em “receber”
Guia Interna:
- D. Transpessoal tem razão; não há dúvida
que existe uma relação entre esse estado e a demora de Pomba Branca em aparecer com seus papiros de Luz…
Um dia Eu ganha coragem e pergunta:
- Não te
chega a nossa companhia? Qual é o teu anseio mais profundo, Minhalma? Que sentimento, que
incompletude, que saudade...?
- Peço-te
perdão, meu amigo. São encantadoras
as histórias que me contam, as imagens que me trazem, os sonhos que partilham
comigo, mesmo a escuta interna em que comunicamos sem palavras... Nunca duvides
do meu terno amor por vós! Tu és como um filho para mim.
Dizendo isto,
abraça-o de forma tão envolvente que Eu Cônscio
se sente de imediato pacificado e feliz.
- Mas...
então por quem suspiras, Minhalma?
- Antes de Alegria Nova nascer eu vivia aqui de janelas fechadas,
ignorada por vós. O meu estado era quase sempre de desânimo, de tristeza
cinzenta e mesmo de uma angústia quase de morte! Tiveste a graça de conhecer Pomba Branca pouco depois de aqui
chegares. Mas nem sempre foi assim. Nesse tempo eu não era capaz de vê-la…
Numa dessas
noites escuras em que estava deprimida sentindo-me em total solidão e abandono
soltou-se do mais fundo do meu desespero um enorme grito: “Preciso de ajuda!”
Foi então que
ouvi pela primeira vez esse bater de asas na janela do meu quarto. Era ela, Pmba Branca, lindíssima, resplandecente.
Tão brilhante que iluminou todo o ambiente da minha casa. Abri as janelas de
par em par convidando-a a entrar e foi então que Alegria Nova nasceu em mim!
- Ah! Bem me
parecia que não podemos ser realmente felizes sem as visitas de Pomba Branca! – exclama Eu,
sentindo-se mais Cônscio.
Minhalma continua:
- Por outro
lado, como sabes também, temos visto que outros Eus proprietários dos Edifícios
desta Egovilla encontram parceiros
de vida, formam casais e muitos deles têm filhos, como tu próprio poderás fazer.
Pois… também eu sinto falta de um Amor capaz de me tornar verdadeiramente fecunda!
Anseio por Ele e pelos frutos de tal união. Guia
Interna indica-me que esses frutos serão um maná, um alimento capaz de infundir
em Todos Nós um Novo Alento, uma Nova Vida.
Eu Cônscio recorda a menina sua colega na Escola por quem sente algo muito especial.
Sentimental e seus duendes Afectos empolgam-se sempre que dela se
aproxima. Emoção fica sem fôlego e,
no regresso a casa, procura sua irmã Imaginação
ficando horas sem fim a segredar. Todas as Forças do 1º e mesmo do 2º andar
vibram em uníssono empolgadas por essa forte atracção.
- Estarei
apaixonado?! – pensa Cônscio - Acho
que encontrei a minha Princesa…
Vontade e Intenção
dizem-lhe claramente que precisa descobrir se é recíproco o seu sentimento:
- Vou dar-lhe
um beijo e logo saberei…
No fundo no
fundo ele já sabe… Ao confirmá-lo é grande o amor e a felicidade que une e aquece
os corações de ambos.
Acha por isso
estranho que justamente agora Minhalma resolva
falar em incompletude! Está bastante inquieto pois convencera-se que tais
estados não existiriam aqui neste nível. Só agora compreende que quando ela entra
em estado de angústia, no r/c e no 1º andar ficam todos deprimidos, dormem mal,
choram e irritam-se uns com os outros sem sequer perceberem qual o motivo! A
tal ponto que chegam mesmo a ser rude para a sua Princesa!!!
Eu experimenta tudo: pede a Intelectual que faça buscas na biblioteca, aos Duendes que a distraiam, às Fadas
que a acompanhem, desce à cave de Al
Quimista pedindo poções e rituais mágicos para o bem de Minhalma, sobe até casa de D. Transpessoal e trás de lá as últimas
novidades em premonições e técnicas de cura.
Tudo em vão. Minhalma sorri ao de leve, educadamente,
mas continua desanimada, às escuras, deixando transparecer a mesma tristeza, a
mesma saudade que tanto mal estar causa em Todos
Nós.
Por último, Eu procura os Assistentes da Universidade
da Vida; eles repetem simplesmente o mesmo aviso que já lhe tinham feito: “…não
vão conseguir explicar nem compreender tudo o que a partir de agora lhes irá
acontecer com os saberes e capacidades próprios dos andares que já conhecem…
Precisarás lembrar-te disso nos momentos de maior aflição, pois a partir de agora
tens de ser tu a encontrar o teu próprio Caminho.”
Eu desespera. Quer resolver a situação mas não sabe mais o que
fazer. Nunca mas nunca em toda a sua vida se sentiu tão completamente impotente!!!
Tão grande tinha
sido a sua azáfama na crença de que poderia ajudar recorrendo aos andares de
baixo, que acabara por se alhear completamente de Guia Interna. Agora, caindo em si, reconhece como nunca a sua não
omnipotência. Resolve tranquilizar-se e sossegando os seus amigos Duais e Psicolés, consegue escutar
de novo Guia.
Humildemente,
junta-se a Minhalma dizendo baixinho:
- Minhalma, tens razão. Precisamos todos
unidos pedir ajuda para conseguirmos encontrar o Caminho para junto d’ Aquele pelo
qual tanto anseias! Vamos já abrir de novo todas as janelas de tua casa. Chega
de escuridão!
Assim que o
fazem, Pomba Branca entra esvoaçando
ao encontro de Minhalma e Alegria Nova. Tudo se enche novamente de
alegres risos.
Mas Guia Interna insiste que precisam
urgentemente ajudar Minhalma na limpeza
da 3ª cave, antes de serem capazes de, mais leves, subirem ao 4º andar:
- Será como a
travessia de uma noite ainda mais escura que dissolverá todas as dúvidas e
ilusões a que ainda possam estar agarrados. Precisam abrir mão dos restos de
egocentrismo, de prepotência orgulhosa e reconhecerem que são reis com pés de
barro e que não podem, por si sós, dar a Minhalma
o Amor pelo qual ela anseia. Cada Centro
de Ser por si próprio é um rei que
vai nu, mas é-lhe muito difícil reconhecê-lo! E isso enfraquece Minhalma na sua busca.
A cura dos nossos
males, angústias, medos, do pai de todos os medos – o medo da aniquilação, da
morte, da perda da identidade tão arduamente conquistada – só pode ser
alcançada através da nossa total e sincera entrega a esse Outro Amor que ela
procura.- revela-lhes Guia Interna.
Mas só no limite
das suas forças os Eus verdadeiramente
se rendem e se juntam às suas Almas na
súplica pelo reencontro com esse Outro Amor
Maior.
Preparando-os
para a descida à sua cave, Minhalma pede-lhes
que, com ela, a Ele se entreguem:
- Faça-se em nós, não a nossa, mas a Sua Vontade!
Conversão que
é, desde então, renovada a cada provação, a cada “morte” da prepotência
egocêntrica.
Guia Interna explica que a Viagem ainda não acabou e que a busca de Minhalma é a busca de Todos Nós:
a busca de todas as Famílias de todos os Edifíciosdeser,
de todas as Egovillas, no Reino da Consciolândia.
Não te
preocupes com a subida ao 4º andar pois agora já não és tu que vais assegurar o
transporte mais para cima… Só precisarás confiar e entregares-te a esse Outro
Poder, esse Novo Amor, pelo qual Minhalma
tanto anseia… E o amor que sentes por tua Princesa e todos os que amas, vai ajudar-te a reconhecê-l’O, pois a
todos os amores Ele engloba, em todos Ele habita.
- Quem sabe no regresso da 3ª cave algo de surpreendente
aconteça… Não sei porquê mas tenho um pressentimento de que Pomba Branca voltará e arranjará maneira
de nos levar para o 4º andar! - segreda-lhe Intuicional.
E não se
engana.
Suasombras
Todos já sabem
de experiência feita que mal-estar e ânsias inexplicáveis são um sinal de que
se torna necessária uma descida às caves. Ou seja: uma viagem de recuperação das
forças bloqueadas no esquecido, no recalcado, no imaturo, no potencial oculto e
que estão tentando encontrar uma saída. É preciso libertá-las, tornando-as
conscientes para obter a energia para prosseguirem no Caminho.
Na “conquista”
de cada um dos andares que já subiram, tiveram
de explorar, simetricamente, a cave que lhe corresponde. Caso contrário a Viagem ficaria suspensa ou, se teimassem
em prosseguir poderiam correr grandes riscos, ao entrarem em ilusórios e
alienadores atalhos sem saída. Todos os Mestres
os alertaram para esse perigo:
- As sombras
ocultas nas respectivas caves agitam-se tentando ganhar visibilidade. Se forem
simplesmente ignoradas podem vir a causar alguns danos mais ou menos graves. Enquanto
não lhes é levada alguma Luz de
reconhecimento consciente, mexem-se no escuro dando encontrões a tudo e podem
tornar-se bastante perturbadoras para Todos
Nós.
- É na minha
cave, a 3ª, que habita Suasombras - confessa
Minhalma quando Eu, admitindo a sua intrometida curiosidade e pedindo muitas desculpas
por isso, lhe pergunta o que tem lá guardado. - A tua sombra, as sombras que
vês no exterior do Edifício ou conheces
nos outros andares são algo de indefinido que nunca vos larga enquanto pressentem
uma qualquer fonte de luz… A tal ponto que parece mesmo que luz e sombra são aí duas contrapartes inseparáveis…
Mas aqui é
diferente… As sombras aparecem na ausência do brilho que Pomba Branca traz do 4º andar. E só essa Outra Luz pode fazê-las desaparecer.
Suasombras é a mãe de todas as Sombras. Para que a possas conhecer teremos que descer lá abaixo,
dar tempo a que os teus olhos internos se habituem à escuridão e, quando te parecer
que ela não existe mais, aí sim estarás a começar a ver as suas filhas, que saem
de cada canto e parecem nunca mais acabar!
- Que
estranho! Que misterioso! Até parece uma daquelas charadas ou adivinhas de que
a Senhorita Imaginação tanto gosta.
Quando podemos lá ir?
- O principal
é querer ir e não ter medo... Há muito que lá não vou. Na verdade tenho estado
à vossa espera pois preciso que me acompanhem. Sozinha não consigo ajudá-las, pois
terão que passar de novo por todas as caves e andares, serem trabalhadas pelo
fogo de Al Quimista, sonhadas por Incônscio e apoiadas por D. Transpessoal na travessia da Psique tornando-se conscientes de Simesmo, para poderem finalmente subir convosco até minha casa, onde deixarão
definitivamente de ser escuras, uma vez iluminadas pela Luz que sempre acom panha Pomba
Branca traz consigo.
- Sim, claro
que queremos ir! E como vamos todos juntos...
- Está bem.
Mas têm que se preparar. Algumas Sombras
são como espelhos e não vão ver-se neles da forma a que estão habituados...
Preparem-se para ter surpresas que poderão não ser muito agradáveis…
Eu Cônscio usa a técnica da Vontade e da Intenção para
acompanhar Minhalma e “sai” de imediato no patamar da 3ª cave.
A escuridão é total.
- No reino de
Suasombras só há Sombras. Por isso não se vê nada com a visão exterior. Só a visão
interior pode aqui funcionar e é também para a treinarem que vos trago cá. – explica
Minhalma.
Ficam um
pouco em silêncio. Eu fecha os olhos
por uns momentos... Subtilmente, uma leve luminosidade começa a aparecer-lhe...
Abre os olhos, curioso: teria Minhalma
afinal acendido alguma vela? Mas não.
Percebem como
é importante continuarem a participar em conjunto nesta busca essencial que
lhes abre os sentidos internos.
Sua
companheira predilecta, sua Princesa, como
gosta de a chamar, está também fazendo as mesmas buscas no seu próprio Edifício e assim podem partilhar
experiências, o que muito os ajuda e os faz sentirem-se interiormente próximos,
fortalecendo o sentimento que os une. Têm também um grupo de amigos de outros Edifícios que estão percorrendo o mesmo Caminho e com quem frequentemente se
juntam para trocarem impressões.
Á medida que exploram
cautelosamente a 3ª cave começam a ouvir sons estranhos. Quanto mais avançam
mais esses sons aumentam de intensidade. De repente, ouvem um silvo agudo e todos
desatam a fugir porta fora, apavorados!!! Ao chegarem, ofegantes, à cave de
cima, Al Quimista diz-lhes, revelando-se
muito sabedor:
- Nas 3ªs caves
vivem as “coisas” feias, más e assustadoras que os habitantes das Villas não gostam de ver e ali arrumam
no escuro desde tempos ancestrais, esperando não terem de voltar a encará-las e
tentando esquecer-se delas para sempre.
E continua:
- Sentindo-se
desprezadas, essas energias prisioneiras parecem chorar e gritar em agonia; são
frustrações, medos, culpas, raivas e ódios, outros tantos Fantas e Demos, monstros
que devido à escuridão em que vivem desenvolvem formas muito estranhas e
desarmoniosas, cheias de bicos e arestas que podem ferir quem deles se aproxime
incautamente. Por vezes, conseguem aparecer nos nossos piores pesadelos.
-
Pressentindo a sua existência como ameaçadora e destruidora, nós chamamos-lhes
“mal” e outros nomes parecidos. Um feiticeiro meu amigo diz que elas podem
mesmo apossar-se dos incautos visitantes mal preparados tornando-os muito infelizes,
sofredores ou mesmo violentos e destruidores – conclui Al Quimista.
- Só o
trabalho dos Eus Cônscios em união com
suas Almas pode ajudar a iluminar e
transmutar estas energias sombrias – explica-lhes Guia, a quem prestam a maior Atenção
Interna.
A Chave Compaixão
Eu Cônscio pensa:
- Eu nunca teria coragem de me aventurar até à 3ª cave se não sentisse
a orientação de Guia e o apoio de Minhalma. Elas insistem que sem olharmos
de frente as “monstruosidades” reflectidas nos espelhos destas Sombras não é possível continuarmos o Caminho,
pois todos os andares e caves, todas as energias sem qualquer excepção, fazem
parte do mesmo Edifício e são
combustível necessário para a viagem Acaminhodeser.
- É preciso descer,
apurar os sentidos internos, re-chorar as mágoas, encarar as “coisas” feias,
más e obscuras de que sempre fugimos e muitas vezes só vislumbramos como
exteriores a nós, reconhecê-las e aceitá-las como nossas e perdoar-lhes, ou
seja, perdoarmo-nos a nós mesmos. E uns aos outros, o que vem a dar no mesmo –
sussurra Guia Interna.
- Como isso é
difícil!!! - exclama Cônscio.
- Temos muito
trabalho pela frente. Vamos a isto! - responde Minhalma resoluta.
E de facto
não se engana! A pouco e pouco Cônscio vai
compreendendo que Suasombras são forças
anímicas, forças de vida que estão “presas”, bloqueadas. Algumas mesmo em
estado de coma ou morte aparente deambulam sem direcção nem objectivo, como “zombies”.
Identificá-las,
escutá-las, acolhê-las, confortá-las e iluminá-las é o trabalho que precisam
fazer para as libertar e conduzir à cave de Al
Quimista. Aí as labaredas levarão ao rubro essas pulsões sombrias que ganharão
maior visibilidade para Cônscio. Ele
poderá então ajudar a transformar essas forças brutas em energias úteis.
- Vale a pena
a persistência! É como ressuscitar partes de mim mesmo – pensa Eu Cônscio.
Foi D. Transpessoal quem lhes segredou que o
fogo de Al Quimista tem o poder de se
apropriar das Sombras e convertê-las em
labaredas, revelando a sua verdadeira energia. Nessa combustão, tudo o que não
interessa ao progresso dos nossos heróis – o lado destruidor que nessa cave as
aprisiona, como sejam as raivas, os medos, os choros e mágoas – fica então
reduzido a cinza que, por sua vez, será reciclada na cave mais abaixo pela Mãe natureza
que tudo recupera.
É muito duro,
sobretudo para Recordação e Emoção! São elas quem aqui mais trabalha,
pois é com elas que Al Quimista conta
para atear a sua fogueira.
Mas quando
termina, todos sentem o acréscimo da energia entretanto libertada. De cada vez
que uma Sombra é depurada o
sentimento geral é de grande alívio e maior leveza e o ambiente de todo o Edifício fica um pouco mais claro e
alegre.
Recordação, pensativa, diz:
- Lembram-se
daquele fumo que encontrámos na primeira visita a casa de Incônscio Dual e que tantos sonhos estranhos e mesmo alguns assustadores
pesadelos nos causou? Agora já sabemos de onde vem!
Todos
acenaram com a cabeça. Ninguém como Recordação
para ajudar a recuperar, compreender e integrar memórias de vivências antigas!
- Isto parece
funcionar como um balão – diz Intelectual.
- O acréscimo de vapor que resulta da combustão das Sombras pelo fogo de Al
Quimista torna-nos mais leves! Quem sabe assim não ganhamos forças para conseguimos
“ascender” ao 4º andar?
Certo dia, ao
entrar numa divisão mais recuada da 3ª cave deparam-se com alguns caixotes especialmente
velhos e bafientos. O ar é irrespirável. A sua atenção é atraída por um deles
que está fechado com um cadeado. Talvez pressentindo a sua aproximação, Suasombras que lá se encontra presa começa
a estremecer soltando prolongados gemidos de tristeza e dor alternados com
urros de raiva e ódio. Dele sai um odor nauseabundo. É verdadeiramente horrível
e assustador!!!
Lembram-se
então que Pomba Branca numa das suas
visitas oferecera a Minhalma uma
chave – Compaixão – explicando que era
um presente muito especial dos vizinhos do 4º andar:
- Precisarão
dela na visita à tua cave. Até lá deves transportá-la num fio bem junto ao
coração pois só aí ela conservará o seu poder.
Perceberam
que chegou o momento de a utilizarem. Aproximam-se com muito cuidado, abrem a
caixa e levantam a tampa, devagarinho...
De imediato os
olhos de Sentimental se enchem de
lágrimas e uma intensíssima mágoa se apodera de Emoção, ao mesmo tempo que os duendes Pensamentos gemem agonizantes, ora julgando-se culpados, ora
acusando tudo e todos de causadores deste sofrimento. Recordação agita-se violentamente: é muito doloroso relembrar
acontecimentos vividos há muito tempo e que, por demasiado traumáticos, tinham
preferido esquecer fechados neste baú.
Desfilam na
mente de Intelectual recordações dessas
cenas vividas no passado, algumas numa infância muito precoce, outras que
parecem vir ainda de mais atrás, talvez até dos seus antepassados…
Eu compreende que sempre que alguma situação presente se assemelha
a esses antigos traumas, a mesma angústia teima em voltar para atormentá-lo.
Os duendes Impulsos contorcem-se em espasmos de
raiva e ódio, lançando faíscas por todo o lado! Recordação está profundamente perturbada e Emoção desfaz-se em pranto.
Minhalma, compadecida, abraça Cônscio que mal se sustém nas pernas.
As suas imagens
aparecem distorcidas e escuras, por vezes mesmo repugnantes, no espelho de Suasombras e eles compreendem que emoções negativas e preconceitos estão a causar
tamanhas distorções e sofrimentos!
- D.Transpessoal, podes ajudar-nos? – suplica Cônscio mantendo corajosamente o baú
aberto.
Ela
aproxima-se devagarinho e fala-lhes suavemente:
- Chorem tudo
o que precisarem. - voltando-se para Impulsos,
Emoção e Recordação continua – Respirem devagar, entrem bem até ao fundo dessas
memórias que estão revivendo; olhem de frente as vossas próprias imagens
distorcidas, sintam os impulsos, revivam as emoções. Dêem-lhes nomes,
reconheçam-nas e aceitem-nas como vossas. Finalmente, lavem-nas com as vossas
lágrimas até que toda a dor nelas se dissolva e Recordação possa recuperar essas memórias traumáticas sem tanto
sofrimento... Só assim Suasombra se deixará
tocar e poderá ser feito o trabalho de libertação da sua energia, congelada no
complexo de angústia recalcada em que tem permanecido enclausurada.
Tu, Intelectual, observa os juízos e as
crenças que formaste nesses momentos de dor e procura reformulá-los à luz do
que já aprendeste ao longo do Caminho.
Assim fazem e
no final todos se abraçam, comovidos e muito aliviados.
Perdão
e Aceitação
Sempre acompanhado
de Minhalma e Guia, de novo bem centrado e integrado, Eu Cônscio resolve continuar a avançar mais para dentro da 3ª cave.
Aos poucos, até onde lhe chega a ousadia e a coragem, explora canto por canto,
escuta todos os queixumes e gemidos, enxuga todas as lágrimas, encara todos os traumas,
assume todas as raivas, enfrenta todas as culpas.
Guia e Minhalma não se
cansam de acentuar a importância de reconhecer os erros, aceitar as próprias
imperfeições e, apesar disso, perdoar e amar:
- A Aceitação e o Perdão – dizem – são os únicos elixires que podem reciclar por
completo todo o conteúdo desta cave!
Nos espelhos
sombrios aparecem por vezes memórias dolorosas que parecem vir de uma linhagem colectiva:
assemelham-se a personagens de outras épocas e contextos. Mesmo tendo idades e
sexos diferentes, Eu reconhece-as em Simesmo…
Percebe
também agora que algumas delas deambulavam na Floresta Mágica das Energias que já antes atravessou com Al Quimista… Aliás esta limpeza mais
profunda que agora fazem pode ter sido começada em algumas sessões de regressão
em casa de D. Transpessoal.
Agora, em estertores
de transubstanciação alquímica todas as memórias traumáticas se dissolvem nos
elixires Aceitação e Perdão das lágrimas que Minhalma, compassiva, sobre elas derrama
enquanto as cinzas residuais escoam para a cave mais abaixo.
A partir de
agora quando novas situações desencadeiam emoções traumáticas semelhantes às
antes vividas, estas já são encaradas e resolvidas na sua realidade presente,
sem que os condicionamentos e bloqueios das ocultas memórias emocionais, de passados
mais ou menos distantes, o impeçam. Pelo contrário, os ensinamentos dessas
anteriores vivências aparecem agora claros e são da maior utilidade para que Eu Cônscio não repita os mesmos erros
que agora humildemente aceita e reconhece.
Como todos os
Mestres muitas vezes lhes disseram,
na vida nada nunca se repete: nós mudamos constantemente e tudo muda connosco.
Por isso, ficar inconscientemente prisioneiro em padrões repetitivos e
compulsivos de memórias, atitudes e comportamentos não é viver, é morrer aos
poucos.
- Vida é auto
criação feita de escolhas presentes! – percebe Eu Cônscio, confiante na presença
de Guia Interna para o ajudar.- Que grande, difícil e dolorosa lição
a desta 3ª cave!!! – exclama interpretando o sentir geral.
- Diz-me
agora, Guia Interna, como podemos finalmente
encontrar esse Outro pelo qual Minhalma tanto
anseia? - pergunta Eu cada vez mais Cônscio.
- Olha! Pomba Branca vem a chegar! Reparas como Minhalma se anima e todo o ambiente
parece voltar a resplandecer com um novo brilho, enchendo-se de suaves aromas?
- Pois é! Até
sinto uma espécie de tremura por dentro! – responde Eu já um pouco mais animado. Acha graça a essa nova sensação embora
não perceba bem de que se trata.
Mas nós não
sabemos voar... Não vejo como vamos chegar ao 4º andar! Esta Guia Interna às vezes parece que não
percebe as nossas limitações…
Em
direcção a Luz
Eu Cônscio percebe como os Assistentes da Universidade
da Vida os têm preparado para prosseguirem a jornada em segurança sem se
perderem irremediavelmente no Caminho, aprisionados numa qualquer alienação.
Admiram muito a sua sabedoria e reconhecem como é importante terem-lhes permitido
testar a sua entrega, confiança, discernimento e autonomia para que possam
continuar a crescer.
O tempo passa.
A 3ª cave já está suficientemente arejada para que possam prosseguir na
exploração do resto do Edifício. A
escuridão total tornou-se numa leve penumbra. Sempre que Minhalma sente necessidade de lá voltar para recuperar mais uma
porção de energia bloqueada já encontram facilmente as restantes sombras que
ainda deambulam, pois os seus sentidos internos estão bem desenvolvidos. Elas
são atraídas como insectos pela Luz que
Minhalma transporta e que muito ganha
em brilho com este trabalho e as visitas cada vez mais frequentes de Pomba Branca.
Vão agora surgindo
também memórias antigas mais luminosas das suas vidas e talvez dos seres de que
descendem, quem sabe até do próprio Universo... São momentos maravilhosos que
suscitam súbitas compreensões e muito contribuem para a expansão de Eu Cônscio.
Torre
de Babel
Já prestes a
concluir os estudos na Universidade da
Vida, Cônscio descobre que o que
aparece como real e verdadeiro e é tomado como lei ou regra num dos andares,
pode não o ser noutro; pelo menos não da mesma maneira ou pelas mesmas razões.
E, no entanto, ele compreende que é importante viver como real cada patamar de
consciência em que se encontre, mesmo sabendo que é sempre uma realidade
relativa, como relativas são as leis e regras que em cada nível de realidade ou
consciência são tomadas como certas…
Só vivendo
como absolutas essas certezas embora sabendo que são relativas, ele aprende a
comunicar e também a expandir os horizontes de saber e de ser próprios de cada
nível. Sem soberba nem falsa humildade. Com honestidade e fraternidade sincera.
Preciso falar
com todos sobre este assunto, pensa Eu Cônscio.
Muita confusão, muitos conflitos e disputas a que tenho assistido entre Egos no dia a dia nas Egovillas, resultam exactamente desses
desencontros, por não nos apercebermos que estamos a comunicar partindo de
patamares diferentes de saber e de ser! Uma autêntica Torre de Babel, em que cada um se julga possuidor da maior verdade.
Como pode
haver compreensão, tranquilidade e paz enquanto todos não perceberem a importância
de conhecer e aceitar as diferentes realidades, as diferentes – e por vezes
paradoxais – verdades, de cada patamar de ser?!
O viver e o saber
em cada andar tem tanto de contingente e efémero! Reflecte Cônscio.
Porventura
mais importante do que procurar ou acreditar em certezas ou verdades tomadas
como absolutas e eternas, talvez seja reconhecer que existem diferentes níveis
de consciência e, portanto, diferentes realidades, todas elas parte integrante
do mesmo Todo, da mesma Verdade Comum.
- Essas
“verdades” relativas dependem da história e de tudo o resto que influi na identidade
de cada ser, em cada agora. Como fractais que desmultiplicam ordens implícitas
e se desdobram e organizam em estruturas explicitas, num movimento sem fim. -
explica Mestre Reitor - O que mais importa
é cada um de nós conhecer-se enquanto Processo,
explorando os diferentes partes de si, no Caminho para Ser.
Como ele tem
razão! Pensa Cônscio. Doravante vou
prestar mais atenção ao andar em que me centro quando me relaciono com alguém,
e ao andar onde o outro parece estar centrado ao comunicar comigo! Preciso,
sobretudo, ensinar os Dual e os Psi Colé a fazerem o mesmo. Estou
cansado desta Torre de Babel em que
não conseguimos entender-nos uns aos outros!
Sou
Alma
- Parabéns Eu Cônscio. O primeiro grau da tua
formação universitária está completo. Foi excelente o teu trabalho com Minhalma e seus elixires compassivos Aceitação e Perdão, e a compreensão a que acabas de chegar sobre a metáfora da Torre de Babel – diz Mestre Reitor abraçando-o carinhosamente
ao som dos aplausos de todos os Assistentes
da Universidade da Vida.
Foi então que
Intuicional exclamou:
- Ouçam
todos! Sinto que um novo Centro está
a chegar!
Mestre Reitor acena com a cabeça:
- Sim, é
verdade. A união de cada Eu Cônscio com
sua Alma representa mais uma
integração da unidade de Ser e, portanto, um novo Centro de Identidade. O seu novo nome é Sou Alma. Daqui para a frente o teu único Mestre será Guia Interna.
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